‘Bom dia, Doutor Alexandre. Vou me formar no próximo ano’ e, com orgulho, meu amigo ascensorista contou que, depois de formar os três filhos, concluiu ter chegado a vez de ele próprio fazer um curso superior e, com muito esforço, tinha ingressado no curso de Teologia de uma Faculdade Evangélica.
Ele não seria advogado ou engenheiro como os filhos. Seria um pastor evangélico.
Amparado na longa amizade e, consequente, intimidade, perguntei-lhe sobre as igrejas caça-niqueis que pululam às pencas por todas as esquinas.
E, com a seriedade que sempre teve, meu amigo explicou ‘ser a vontade de Deus’.
Segundo lhe fora ensinado já nas primeiras aulas da disciplina sobre como abrir uma igreja, Deus era quem determinava sucesso ou o fracasso de uma Denominação (é assim que os crentes chamam as diversas igrejas evangélicas).
Assim (sempre segundo lhe fora ensinado na Faculdade), pouco importando o tipo de obra realizada pela Denominação, Deus estabelece quais são as iniciativas ‘boas’, dando-lhes o sucesso desejado pelos seus mentores.
Entendi, então, que, refletindo a conveniência terrena dos sacerdotes, os fiéis evangélicos são levados a acreditar na prevalência de critérios misteriosos no julgamento de Deus, cuja aprovação é manifestada através da fortuna material concedida aos pastores (por eles referida como ‘benção’).
Nesta perspectiva, na apreciação feita pelos fiéis sobre os pastores, quesitos como virtude, humildade, bondade, seriedade, verdade e outros valores humanos positivos são secundarizados, pois, afinal de contas, diante do reconhecimento de Deus (traduzido pela riqueza alcançada), qualquer outra coisa é irrelevante.
Aliás, tendo a fortuna como prova da aprovação de Deus, os pastores estariam dispensados de apresentar quaisquer outras virtudes, inclusive aquelas eventualmente exigidas no julgamento de outras pessoas.
Esta corruptela da natureza de Deus e da função daqueles que dizem representa-Lo na Terra explica o jeito-de-ser submisso do rebanho e, também, [explica] a facilidade como os espertalhões estruturam igrejas-caça-níquel e bolhas de alienação. Sabendo disso, fica fácil entender a associação dos ‘pastores’ que integram a chamada bancada de Belzebu (antiga bancada da Bíblia) com os mal-feitores que animam as bancadas da bala e do boi ou o empenho como os pastores-deputados dão as costas para pautas sociais e abraçam causas irrelevantes ou perniciosas à sociedade.
Deixa de causar surpresa a Denominações que vendem terrenos no Paraíso ou a desfarçatez como o pastor André Valadão ostenta um relógio Rolex de R$ 200 mil adquirido depois de criar uma área vip para os milionários da sua igreja.
Vale dizer que, talvez habituados com a tolerância como os fiéis aceitam o seu comportamento mundano, muitos pastores relaxam e exageram nas estripulias – foi o caso daquele condenado a nove anos de prisão na Carolina do Norte por ter cometido estelionato contra os fiéis da sua Denominação ou daquele que, flagrado com a sogra num motel de Belo Horizonte, levou uma surra da esposa.
Fico imaginando o dia que Deus resolver aplicar um corretivo severo nos FDP’s que usam o Seu santo nome para ludibriar a boa fé e a inocência dos crentes. Sodoma vai ser fichinha.
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