As elites são pródigas em desenvolver métodos capazes de preservar os seus interesses. Foi nesta wibe, por exemplo, que surgiram as propostas de ‘democracia representativa’ – um sistema que reproduz as linhas gerais da aristocracia, mas não contradiz radicalmente o conceito de Democracia – e de ‘Banco Central Independente’.
De fato, da mesma forma que, assustada com o empoderamento do Povo, as elites criaram um sistema através do qual as pessoas transferem o seu poder político para um grupo de ‘representantes’ (que, como ocorre com os deputados e senadores brasileiros, no fundo, representam apenas os seus próprios interesses e daqueles que bancam as campanhas eleitorais), [que] percebendo a força dos governos populares, [as elites] criaram a tese do ‘Banco Central Independente’ – uma autoridade monetária máxima sem vínculos políticos com o governo (mas com vínculos com a banca privada).
No Brasil, sempre que tinham a chance, os parlamentares conservadores levantavam a tese [do BC independente].
Foi assim, por exemplo, quando assumiram o governo usurpador de Michel Temer – que propôs o BC independente, mas, sem tempo para aprovar a PEC necessária, mostrou o tipo de ‘independência’ que interessava às elites golpistas, substituindo Alexandre Antônio Tombini (nomeado por Dilma Rousseff) por Ilan Goldfajn (‘independente’ indicado pelos banqueiros). Foi uma movimentação muito interessante, pois, segundo diziam, os golpistas queriam um BC independente, mas a primeira coisa que fizeram foi desautorizar a ‘independência’ do então presidente e nomear um novo [presidente] (da sua confiança e, claro, da confiança dos banqueiros).
Com mais tempo para levar adiante a agenda liberal, Jair Bolsonaro conseguiu aprovar arcabouço necessário e, em 2019, cumprindo mais uma promessa aos barões internacionais do Capital, Bolsonaro deu posse a Roberto Campos Neto para um mandato ‘independente’ à frente do Banco Central até o próximo dia 31 de dezembro.
Enquanto o mandato de Roberto Carlos Neto coincidiu com o governo de Bolsonaro, não houve grandes discrepâncias (houve apenas um corto momento, quando Bolsonaro despejou um montão de dinheiro na economia para tentar comprar a reeleição) e, fazendo a festa dos banqueiros, o BC independente’ elevou a taxa básica de juros como quis (de 6,5% aa em 2019, para 13,75% aa em 2022).
A chegada de Lula à presidência mudou tudo, pois o monetarismo de Roberto Campos Neto não é compatível com a politica desenvolvimentista reclamada pelo País.
Há quem diga que, de forma deliberada, Roberto Campos Neto vem sabotando o governo Lula.
É possível e explicaria a atual taxa de juros de 10,5% aa. De qualquer forma, em pouco mais de seis meses, o BC ‘independente’ terá a diretoria indicada por Lula e será exemplo de uma nova ‘independência’.
Será que, quando estiver sob a ‘independência’ decorrente da indicação de Lula, as elites vão continuar a defendê-lo (o BC independente)?
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