Ontem, em episódio extremamente significativo que trouxe recado explícito das lobas atuantes no setor financeiro, depois de seis anos ausente do noticiário (ausência igualmente significativa), de forma simultânea, os comentaristas econômicos das principais redes de comunicação voltaram a falar no ‘Risco Brasil’ (que foi tão presente nas fases preparatórias do golpe de 2016).
Para perfeita compreensão da mensagem, é preciso rever alguns conceitos.
Primeiro: o significado do termo ‘mercado’. Para fazer crescer a própria importância e iludir os menos informados, aplicando velha técnica pirata, grandes financistas e especuladores das bolsas de valores passaram a referir-se a si mesmos como ‘o mercado’ (omitindo intencionalmente o complemento ‘financeiro’). Assim, o termo ‘mercado’ não se refere ao mercado em si, mas, sim, a parte do mercado financeiro, sendo uma imprecisão mal-intencionada à serviço de alguns e o simples uso do termo já deve ser motivo de desconfianças.
O termo ‘Risco Brasil’, por sua vez, se refere ao sentimento que o tal mercado financeiro alimenta em relação a eventual dificuldade de o Tesouro brasileiro honrar os compromissos assumidos com os credores (ou seja, no linguajar deste pessoal ‘Risco Brasil’ seria a probabilidade de o governo decretar uma moratória). Aliás, embora possa (e deva) ser usado para a fixação de taxas de juros nos empréstimos internacionais, o emprego do termo ‘Risco Brasil’ normalmente é feito como chantagem e ameaça, pois, no fundo, tenta passar a ideia de ser uma espécie de atestado de saúde econômica (quanto menor o Risco associado ao país, mais confiável ele será).
Pois bem.
Bastou Lula reiterar seu compromisso com a promoção do bem-estar social para as lobas do setor financeiro ficarem ariscas e reagirem. Ressuscitando o clima que norteou seu relacionamento com o governo Dilma Rousseff, as lobas mobilizaram o esquema de imprensa que as serve para manifestar o ‘descontentamento do mercado’ e, talvez como forma de aviso, voltar a falar em ‘crescimento do Risco Brasil’. Já conhecemos o roteiro deste filme e sabemos como mudar o seu final.
Na realidade, se dizendo ‘o mercado’, com apoio da mídia, o setor financeiro quer pautar o governo, impondo uma agenda contrária a tudo aquilo desejado pelos humanistas.
Espero, sinceramente, que Lula tenha forças para resistir às lobas e leve adiante um grande programa de responsabilidade social.