Músicas compostas por Alexandre Santos

Aqui você pode conhecer algumas músicas compostas por Alexandre Santos.

  • Ode a Gomb

    Tema musical do poema G’Dausbbah.
    Consta de quatro movimentos – Paz, Agonia, Esperança e Glória.
    Arranjo digital do maestro Luciano Oliveira.
    tempo de execução: 9 minutos e 20 segundos

  • Paz

    Primeiro movimento do tema musical do poema G’Dausbbah.
    Versão e arranjo digital do maestro Luciano Oliveira.
    tempo de execução: 2 minutos e 58 segundos

  • Agonia

    Segundo movimento do tema musical do poema G’Dausbbah.
    Versão e arranjo digital do maestro Luciano Oliveira.
    tempo de execução: 2 minutos e 52 segundos

  • Esperança

    Terceiro movimento do tema musical do poema G’Dausbbah.
    Versão e arranjo digital do maestro Luciano Oliveira.
    tempo de execução: 4 minutos e 5 segundos

  • Glória

    Quarto movimento do tema musical do poema G’Dausbbah.
    Versão e arranjo digital do maestro Luciano Oliveira.
    tempo de execução: 2 minutos e 33 segundos

  • G’Dausbbah, o poema

    Poema G’Dausbbah.
    pela voz de Albuquerque Pereira.
    tempo de execução: 9 minutos e 9 segundos

     

     

    G’Dausbbah

    Alexandre Santos

     

    O desejo de sangue

     

    Depois de um breve descanso,

    já refeita da peleja em que feriu e matou,

    a besta acordou,

    pronta para uma nova jornada de ódio, cobiça e ranço.

     

    Olhos injetados,

    Hálito sepulcral,

    Couro rachado,

    Voz infernal.

     

    Queria espalhar dores e sofrimentos.

    [queria] empestar o mundo com tristezas e tormentos.

    [queria] sufocar a paz, estimular atritos.

    [queria] semear a intriga, colher gritos.

     

    Queria ouvir o lamento dos exilados.

    [queria ouvir] o arfar dos mutilados.

    [queria ouvir] o pranto dos vencidos.

    [queria ouvir] o suspiro dos foragidos.

     

    Queria esmagar a felicidade.

    [queria] festejar a maldade.

    [queria] regar a terra com o sangue fresco das crianças.

    [queria] salpicar o vento com o cheiro acre das matanças.

     

    Ao léu escolheu um alvo no qual pudesse despejar sua sanha.

    Um lugar no qual pudesse agir impune, sem manha.

    Um povo no qual pudesse seu ódio cravar.

    Um momento no qual pudesse ferir, massacrar, matar.

     

    Os preparativos da invasão

     Convocou os senhores das guerras.

    Bestas sempre ávidas por mais ouro e terras.

    Determinou os horrores.

    Cobrou suplícios e dores.

     

    A guerra

     Um sinal, um rufar, a máquina estúpida foi movida

    Promessa de dor, desespero, alma ferida

    A girândola macabra funcionou

    A terra tremeu, o mundo mudou.

     

    O ribombar dos canhões

    O silvo diabólico dos aviões

    A lava em brasa dos vulcões

    A cadência mortal das legiões

     

    O mal chegou.

    Querendo riqueza, matou,

    querendo poder, esfolou,

    querendo prazer, torturou.

     

    Por onde passou,

    Um lamento ecoou.

    Um rastro de angústia e ruína,

    Violência, brutalidade e rapina.

     

    A devastação

    Onde deveria haver amor, cuspiu rancor.

    Onde deveria haver alegria, plantou agonia.

    Onde deveria haver luz, pintou escuridão.

    Onde deveria haver flores, espalhou temores.

     

    O que deveria exalar perfume, cheirava estrume.

    O que deveria viver em festa, pranteava o luto.

    O que deveria exibir fartura, rachava em pedras.

    O que deveria estar em paz, se debatia em ódio.

     

    Negando clemência aos deserdados,

    Apontando lanças e dardos

    A besta insuflou o ataque final

    Até impor um silêncio mortal, a vida sem sal.

     

    A ocupação

    Em meio às trevas a besta exultou o mal.

    Imaginou um mundo infernal,

    De miséria universal,

    Deserto sem igual.

     

    Reino da mentira, desencanto, solidão.

    Sombras, labaredas, tempestades, escuridão.

    Cheiros e choros da dor sem fim.

    Serpentes e dragões em maligno festim.

     

    A reação

    Mas o sol não se apagou

    a paz das armas não vingou.

    Um tênue facho brilhava na alma reprimida

    Um fio de vida animava a carne ferida

     

    Na procissão dos exilados, o desejo da volta.

    Na vitrine dos mutilados, a rebeldia contida,

    Na mesa dos vencidos, a lembrança da comida.

    No medo dos foragidos, o germe da revolta.

     

    Em cada gesto um aviso

    Em cada olhar um sinal

    Em cada toque, um convite

    Em cada lamento, um desafio

     

    E o povo de Deus se levantou

    Lutou

    Reagiu

    Ressurgiu

     

    Em cada casa, uma trincheira,

    Em cada rua uma bandeira,

    Em cada praça, uma batalha,

    Em cada cidade uma fornalha.

     

    A expulsão

    O tempo passou.

    A resistência cresceu.

    quando pode, mordeu.

    quando precisou, correu.

     

    Avançou,

    recuou.

    Fustigou,

    pressionou

     

    Sob relâmpagos e trovões,

    Anjos e santos, piratas e ladrões.

    O fim de um tempo de enxofre, eclipse, clarões.

    O fim de um tempo de pesadelos e  visões.

     

    Diante do sonho de liberdade, o homem se fez forte.

    Diante do medo da liberdade, a besta temeu a morte.

    Os anjos louvaram a vitória.

    Os demônios escafederam-se na história.

     

    O sol surgiu.

    Um sorriso se abriu.

    A música soou.

    A festa começou.

     

    Paz e Glória

    Os mares borbulharam beijos.

    Os campos brilharam estrelas.

    O fogo ardeu paixões.

    O céu espelhou encantos.

     

    Onde havia rancor, brilhou o amor.

    Onde havia escuridão, brotou luz.

    Onde havia horrores, desabrochou  flores.

    Onde havia agonia, sorriu a alegria.

     

    O que cheirava estrume, exalou perfume.

    O que pranteava luto, viveu festa.

    O que rachava em pedras, exibiu fartura.

    O que se debatia em ódio, proclamou a paz.

     

    E, enfim livre, o povo pode viver.

    Em festa, desfrutou o fruto permitido.

    Em  paz, degustou o mel proibido.

    Em gozo, saboreou a verdade escondida.

     

    Milhões de asas, tontas de luz,

    singraram o céu azul.

    [Elas] comemoram o raiar do sol,

    a chegada da paz,

    vida sem rancor,

    um mundo só de amor.

     

    Recife, março de 2004.

  • Terra de fogo

    Música composta em parceria com Isaac Sete Cordas
    Letra de Alexandre Santos, Música e interpretação de Isaac Sete Cordas.

     

     

    Terra de fogo

    Alexandre Santos

     

    Tempo de mar,

    Terra de fogo,

    Hora de amar,

    Terra de fogo.

     

    Tempo de arte,

    Campo de sorte,

    Hora de graça,

    Terra de raça.

     

    Hora de pinga,

    Canto de ginga,

    Tempo de missa,

    Canto de bossa.

     

    Tempo de medo,

    Tempo de tudo.

    Hora de vida,

    Idade de festa.

     

    Recife, 11 de maio de 2004

  • Entroncamento

    Música composta em parceria com Paulo Viola
    Letra de Alexandre Santos, Música e interpretação de Paulo Viola. Arranjo de Marcos Souza.

     

    Entroncamento

    Alexandre Santos

     

    Alegrem-se. O vermelho está de volta.

    Já é possível adiar a revolta.

    Mais uma vez, esperança de ganhar a vida.

    Nova chance de um prato de comida.

     

    A turba avança.

    Pouco na cabeça e nada na pança.

    Na romaria dos deserdados, cegos e aleijados.

    Correria de mendigos e desempregados.

     

    Cada um no seu lugar.

    Cada um na sua vez.

    Cada qual com seu talento,

    História e sofrimento.

     

    O surdo-mudo mercador.

    Corre contra o fluxo. Corre contra o tempo.

    Flanela no retrovisor.

    Cabide de choro e lamento.

     

    Sem saber o que é infância,

    a criança na janela fechada

    confronta o prisioneiro da ignorância.

    Sonha uma moeda. Uma lufada gelada.

     

    Já cansado, com o corpo moído,

    o menino-pedinte distribui o papel encardido.

    ‘Não roubo, nem cheiro cola’.

    Mensagem clara a quem nada controla.

     

    Surge um malabarista na ribalta.

    Um mestre que faz girar bastões incandescentes.

    Cena rápida que vai e volta.

    Cena rápida do artista impaciente.

     

    Sem aviso ou encomenda,

    o rapaz tenta a prenda.

    Um esguicho, um para-brisa.

    O tostão que escandaliza.

     

    A moça solta a propaganda.

    Apartamentos com suíte e varanda.

    Luta para sobreviver,

    Sonho que nunca vai ter.

     

    O ambulante sorridente.

    Circula gentil e sedutor.

    Fruta reluzente.

    Duvidável qualidade e sabor.

     

    O mendigo diabético.

    Lento, cego e purulento.

    Cético, torce por um gesto ético

    do nojento que o faz violento.

     

    Faina renhida de prêmio e castigo.

    Indiferença de quem só vê o próprio umbigo.

    Susto em quem trava a porta e ri.

    Uma moeda aqui, outra ali.

     

    O tempo se foi. Fim de jornada.

    Um ronco. Volta à calçada.

    Carros levam a vida.

    Desemprego de quem não tem guarida.

     

    Sem ocupação,

    miseráveis voltam a pensar na revolução.

    Mas, o vermelho voltará.

    E tudo recomeçará.

     

    Recife, 1º de agosto de 2005.

  • Bel de tal

    Música composta em parceria com Isaac Sete Cordas
    Letra de Alexandre Santos, Música e interpretação de Isaac Sete Cordas.

     

    Bel de tal

    Alexandre Santos

     

    Bel, meu bem,

    de quem tem e de quem não tem,

    de quem vem e de quem não vem,

     

    Princesa da noite e do vinho,

    suor e espuma pelo caminho,

    pastora de pássaros sem ninho.

     

    Ousada,

    molhada,

    rasgada.

     

    Musa de sol, sal e mel,

    Vida livre, sem véu ou anel,

    sem nada igual sob o céu.

     

    Totalmente reformulada em 29 de dezembro de 2004.