Como disse Honoré de Balzac, “por trás de toda grande fortuna existe um crime”.
Acontece que o tempo passa e, muitas vezes, os crimes originais são esquecidos ou assimilados pelo costume social, dando aos criminosos-enriquecidos a dádiva do esquecimento ou do perdão.
Outras vezes, sem esperar pelo passar do tempo para ‘limpar’ a sua imagem, os criminosos inventam fórmulas capazes de dar aparência legal e até charmosa às suas atividades. Desta forma, por exemplo, alguns agiotas articulam a emissão de ‘Cartas Patente’ que legalizam a extorsão, dando-lhes a respeitável condição de ‘banqueiro’. Coisa parecida aconteceu com piratas, que, tomando por base a ideia das Cartas Patente, articularam a emissão de ‘Cartas de Corso’ – um documento expedido pelo governo cuja propriedade transforma assaltantes de embarcações e de comunidades em ‘corsários’, criminosos que, com autorização e mesmo proteção do Estado, fazem do saque a sua fonte de riqueza e prestígio.
E assim, com a pompa devida aos banqueiros e corsários, bandidos com os Medici, os Rothschild, Francis Drake, Jean Bart e tantos outros passaram a circular pelas cortes, recebendo os salamaleques devidos aos poderosos.
Pois bem.
Com o passar do tempo, assumindo roupagens mais sofisticadas e formais, agindo de forma aberta e sempre com uma ‘cobertura legal’ capaz de explicar suas atividades criminosas, a pirataria e a agiotagem para serem exercidas pelos mesmos bandidos e, adotando uma terminologia mais simpática, os corsários passaram a também se chamar de banqueiros.
E, neste embalo, a pirataria e a agiotagem se incorporaram ao dia-dia da sociedade – seja através de juros extorsivos cobrados nos empréstimos, cheques especiais e cartões de crédito, seja através da apreensão garantias dadas em empréstimos, resgate de hipotecas e coisas assim. Aliás, no afã de aplacar seu apetite insaciável, o pessoal desta turma não controla a ousadia e pratica piratarias inimagináveis.
Imagine que, dizendo haver dúvidas sobre a legitimidade do governo de Nicolas Maduro, o Banco da Inglaterra encampou 31 toneladas de ouro depositados pelo Banco Central da Venezuela em seus cofres na City Londrina (este esbulho praticado pelos britânicos foi a verdadeira causa da exclusão do presidente venezuelano da lista de convidados para o funeral da Rainha Elizabeth II).
Mais recentemente, os líderes do G7 (Estados Unidos, Japão, Canadá, França, Alemanha, Itália e Reino Unido) decidiram açambarcar os ativos russos no valor de € 260 bilhões depositados em bancos europeus – inicialmente, sob a chancela de embargo por conta da guerra no Leste Europeu, o fundos russos foram ‘Congelados’, numa segunda rodada da pirataria, decidiram usar (eles empregam o termo ‘alavancar’) os lucros gerados pelos recursos retidos (cerca de € 3,5 bilhões anuais) para financiar o esforço de guerra da Ucrânia (cujo montante aplicado pelas potências ocidentais beira os US$ 500 bilhões) e, mais recentemente, sob o argumento da “defesa e reconstrução” da Ucrânia, os piratas franceses e britânicos chegaram a propor o confisco de todo o dinheiro russo.
Por medo das tropas de Vladimir Putin, a ideia não prosperou e os piratas do G7 não foram além do uso dos juros produzido pelos ativos russos.
Se Nicolas Maduro comandasse um arsenal preenchido por bombas capazes de atingir alguma cidade importante dos países do G7, talvez os piratas britânicos não fossem tão ousados.
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