Desde o final de 2021, com toda a sinceridade possível aos estadistas e sem qualquer referência explícita ao golpe pró-EUA de 2014 ou ao genocídio contra ucranianos de origem étnica russa que vivem nas regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, o presidente Vladimir Putin alertou ao governo de Volodimir Zelensky que, por razões de segurança, a Rússia não poderia aceitar o ingresso da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) – o que, na prática, significaria colocar na sua fronteira uma potência inimiga formada pela aliança militar de 30 países, incluindo 14 países do ex-bloco soviético e, ainda, os Estados Unidos.
Na época, proibido de celebrar qualquer acordo com os russos pelos norte-americanos e pelos generais da OTAN (que, por sua vez, obedecem as ordens dos norte-americanos), conforme denunciou o economista norte-americano Jeffrey Sachs em discurso no Parlamento Europeu, Volodimir Zelenski confiou nos ‘novos amigos’ e desafiou a Rússia.
Conclusão: em 24 de fevereiro de 2022 a Rússia invadiu a Ucrânia e passou a exigir sua ‘desmilitarização e sua desnazificação’.
Numa situação normal, a Ucrânia não suportaria uma semana de guerra contra a Rússia.
Mas, conforme insinuado, os ‘aliados ocidentais’ se prontificaram a fornecer toda a ajuda militar necessária para o enfrentamento da Ucrânia ao poderoso exército russo.
E, assim, oferecendo o território do país como teatro de operações (e, portanto, palco da destruição) e sua população como bucha de canhão, Zelenski vem recebendo toda ‘ajuda militar’ que lhe é oferecida para combater a Rússia.
Acontece que, na realidade, aquilo apresentado ao público como ‘ajuda militar’ não passa de um empréstimo carimbado para uso na aquisição de material bélico produzido pela indústria armamentista norte-americana (a dinheirama não chega a sair do território dos Estados Unidos, pois sai do Tesouro diretamente para as contas bancárias das fabricantes de armas e munições).
Ou seja, a cada ‘ajuda militar’ recebida, a Ucrânia mais se afunda no oceano de dívidas criadas pelos seus ‘aliados ocidentais’, comprometendo naturalmente, a soberania do país.
Para se ter uma ideia do montante deste buraco, até 2023, a rubrica ‘Ucrânia’ da conta Haveres mantida pelo Tesouro dos Estados Unidos já registrava 370 bilhões fornecidos à guisa de ‘ajuda militar’ para aquisição de equipamentos, armas, munições e treinamento de pessoal.
De lá para cá, o Capitólio aprovou novas ‘ajudas militares’, ampliando a divida da Ucrânia em bilhões e bilhões de dólares.
Agindo como bom intermediário de negócios para a indústria armamentista norte-americana e, ao mesmo tempo, como banqueiro esperto, Joe Biden aproveitou todos os seus últimos minutos na Casa Branca para ampliar o buraco financeiro no qual meteu a Ucrânia, aprovando nos estertores do seu mandato quase US$ 8 bilhões em ‘assistência militar’.
Pois bem.
Com a inocência de um babaca (dizem que ele não é tão babaca assim, pois ficou bilionário com propinas de cerca de 10% sobre o valor das encomendas), Volodymyr Zelensky caiu na armadilha dos ‘amigos ocidentais’ como um pato.
De fato, nos dias correntes, passado um único mês do final do mandato de Joe Biden, os Estados Unidos resolveram apresentar a conta das ‘ajudas militares’ e estão cobrando à Ucrânia de Volodimir Zelenski o preço tão elevado como deve ser cobrado àqueles que têm como pagar e não têm como resistir.
Alegando uma dívida de quase US$ 500 bilhões (contraída no curso das abundantes ‘ajudas militares’ oferecidas para o enfrentamento com o exército russo), já colocando a suspensão do acesso à internet via o satélite Starlink, da SpaceX (pertencente ao oligarca Elon Musk), o governo de Donald Trump está exigindo autorização para exploração das jazidas trilionárias de minerais estratégicos, como o manganês, titânio, lítio, grafite e urânio e, também, de outros recursos como petróleo e gás.
Como um agiota pervertido (que, de fato, é), em troca de parte da ‘ajuda militar’ já encaminhada à Ucrânia, em negociação do tipo ‘ou dá ou desce’, o governo dos Estados Unidos exigem 50% dos rendimentos do país com a exploração de recursos naturais.
Sem alternativa, as lideranças ucranianas começam a achar que a companhia dos russos não é tão ruim como dizem os ocidentais e a cogitar em aceitar a proposta do Kremlin.
Acontece que, agora, talvez já seja tarde para um acordo com os russos.
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