Por absoluto despreparo político, o Povo brasileiro não percebe a estreita correlação entre os poderes da República e, talvez por creditar poderes imperiais ao presidente, vota de forma ‘descasada’, produzindo, com frequência, situações anômalas nas quais a oposição fica em maioria no parlamento, o que dificulta sobremaneira a tarefa de governar.
A presença majoritária da oposição no Congresso Nacional foi responsável pelas turbulências que tentaram desestabilizar o primeiro governo Lula e, depois, derrubaram a presidente Dilma Rousseff. Agora, a situação não é muito diferente.
Do pleito de 2022, apesar da eleição de Lula, brotou um Congresso Nacional extremamente conservador e reacionário – na Câmara dos Deputados, o PL (partido de Jair Bolsonaro) elegeu a maior bancada (99 deputados) e a terceira maior bancada foi eleita pelo conservador União Brasil (59 deputados); no Senado, o PL conquistou 6 novas cadeiras ampliando sua bancada para 14 senadores, o segundo maior partido do Senado passou a ser o igualmente conservador PSD (com 11 senadores) e na sequência ficaram o União Brasil e o MDB (com 10 senadores cada um), o PT (partido do presidente Lula) ficou com apenas 9 senadores.
Não é fácil governar com minoria no Congresso Nacional.
Não foi sem razão que, para alcançar as mínimas condições de governabilidade, numa relação quase imoral de toma-lá-dá-cá, ao montar o governo, presidente Lula incorporou o União Brasil, entregando-lhe três pastas – Turismo, Comunicações e Integração e Desenvolvimento Regional -, [incorporou] o PP e [incorporou] o Republicanos, que ocupam um ministério cada um.
Vale dizer que a presença destes partidos no ministério não vem se traduzindo em votos para o governo no Congresso Nacional.
O União Brasil, por exemplo, é o quarto partido que menos vota com o governo.
Para deixar esta situação mais clara, por estes dias, os partidos União Brasil e Progressistas formaram a chamada Federação União Progressista (reunindo 109 deputados federais e 14 senadores), um conjunto poderoso, que, pela própria natureza da política – como já ficou claro nos discursos proferidos pelos presidentes Antônio Rueda (União Brasil) e Ciro Nogueira (Partido Progressista) – não pode garantir apoio à recandidatura de Lula e, demonstrando o caráter volúvel dos aglomerados fisiológicos conservadores, flertam com o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Parece claro que, sem querer ‘largar o osso’, o pessoal da União Progressista vai estender sua presença no governo Lula até o momento em que os grandes mentores da banda Direita comandarem em contrário.
De sua parte, de forma igualmente interesseira, já preparando planos alternativos para o provável desembarque dos conservadores, o governo Lula deve aproveitar até o último instante os preciosos votos que os parlamentares da União Progressista puderem dar-lhe no Congresso Nacional – momento no qual possivelmente se instalarão as maiores dificuldades do governo.
Este tipo de esquizofrenia vai perdurar enquanto o Povo brasileiro não aprender que precisa fazer a sua parte no processo de governabilidade e deixar de entregar um presidente progressista a um parlamento conservador (ou vice-versa).
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