Se há quesito incapaz de ser mantido pelos liberais é a coerência. De fato, pouco importando a posição ocupada no espectro – uma faixa que varre a banda direita desde o liberalismo puro até o ultra-liberalismo, passando pelas gradações que atendem por neoliberalismo e liberalismo moderado -, apesar de jurarem amor à ‘liberdade’, nas horas decisivas, os liberais recorrem ao planejamento, à regulamentação e, mesmo à intervenção do Estado.
Naturalmente, na maioria dos casos, as incursões ao ferramental da Esquerda ocorrem em benefício das elites liberais (as grandes companhias liberais praticam o planejamento extremo – a Boeing, por exemplo, só começa a produção dos grandes aviões depois de saber o número exato de rebites que vai usar e ter simulado centenas de conjunturas e cenários comerciais – e via de regra cresceram graças as encomendas estatais).
De qualquer forma, como exemplo expressivo desta incoerência, na hora do aperto, os líderes liberais recorrem a intervenção do Estado para superar a dificuldade.
Foi assim, todos lembram, na grande crise de 2008, quando, ‘traindo’ o ideário liberal, agindo como se fosse ‘de esquerda’, o governo norte-americano assumiu o controle das instituições bancárias falidas Fannie Mae e Freddie Mac, resgatou a AIG e injetou US$ 700 bilhões para salvar bancos insolventes.
Agora, em outro expressivo exemplo desta contradição, no primeiro dia de governo, o ultraliberal Javier Milei, que diz querer ‘o menor dos Estados mínimos’, interviu diretamente na economia e anunciou restrições à compra de dólares (que só poderão ser adquiridos mediante autorização especial do Banco Central da Argentina).
Estas coisas, no entanto, passam despercebidas pelo público conservador e reacionário, que, por puro condicionamento da bolha a que está recolhido, não consegue ver ou interpretar a realidade circundante e, a plenos pulmões e ajustes às condições locais, esbravejam contra a Esquerda e gritam ‘mito, mito, mito’ (cada lugar tem o seu ‘mito’).
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