Na cúpula Rússia-África realizada nos últimos dias de Julho, em São Petersburgo – quando o presidente Vladimir Putin anunciou a assinatura de acordos de cooperação militar com mais de 40 países africanos e a doação de até 50 mil toneladas de grãos a Burkina Faso, Zimbábue, Mali, Somália, República Centro-Africana e Eritreia -, ganhou destaque o forte discurso pronunciado por Ibrahim Traoré, jovem presidente de Burkina Faso desde setembro de 2022.
Ele faz parte de uma (segundo a Casa Branca) ‘nova e raivosa geração de jovens graduados e profissionais africanos’, que, cada qual com seu estilo, está firmando uma posição altiva, anti-colonialista e anti-imperialista.
Não foi à toa que a França decidiu suspender toda a ajuda ao desenvolvimento e apoio orçamental ao Burkina Faso “até nova ordem”.
Pudera!
Sob a liderança de Ibrahim Traoré, Burkina Faso e o Mali manifestaram solidariedade com os militares que tomaram o poder no Níger – um movimento político que contraria os interesses políticos e econômicos do ‘Ocidente’ (leia-se Estados e aliados).
Ainda ecoa nos corredores das grandes corporações habituadas a sugar as riquezas da África o discurso de Ibrahim Traoré ao ser empossado na presidência de Burkina Faso, na sede do Conselho Constitucional na capital Ouagadougou, quando, após apelar à “mobilização patriótica e popular” e prometer pôr fim à insegurança do terrorismo, jurou lutar pelo seu país até seu “último suspiro” para “devolver a esperança ao povo”.
A tarefa de Ibrahim Traoré será longa e árdua, pois, como bem sabe, todo líder bem intencionado vive cercado de traidores prontos a cravar-lhe o punhal da traição em troca de um punhado de moedas.
Foi assim, por exemplo, com Thomas Sankara, um jovem soldado de Alto Volta – uma pequena e paupérrima colônia francesa na África subsaariana – que, em 1983, liderou a revolução socialista que trouxe a independência e o nome Burkina Faso (Terra dos Homens íntegros) para o país e, nos quatro anos seguintes, transformou a vida do povo e colocou o país no mapa e na história africana, fazendo a reforma agrária, cancelando o pagamento da dívida com a França, criando um fundo monetário nacional, acabando com a especulação imobiliária, garantindo a todos pelo menos duas refeições e dez litros de água por dia, vacinando 2,5 milhões de crianças, erradicando a polio, a meningite, a febre amarela e o sarampo, perfurando poços artesianos nas aldeias isoladas, negociando acesso ao mar com o governo de Gana, plantando cem milhões de árvores no norte do país para impedir a desertificação, construindo moradias populares, unindo etnias de forma pacífica sob a bandeira da revolução e alfabetizando a população em todas as línguas faladas no país, prestigiando a participação de mulheres no governo, proibindo a mutilação genital feminina, [proibindo] as escolas de expulsarem estudantes grávidas, [proibindo] o casamento forçado e [proibindo] a poligamia, legalizando o alistamento militar feminino, distribuindo contraceptivos e muito mais.
Ao fim de 4 anos, sob a liderança de Thomas Sankara, Burkina Faso contava com autossuficiência alimentar e têxtil e a taxa de analfabetismo havia caído de 98% para 27%.
Nada disso, no entanto, arrefeceu a ambição dos traidores sempre presentes e, em 1987, quando tinha apenas 37 anos, Thomas Sankara foi vítima de um atentado organizado por Blaise Compaoré, que o sucedeu na presidência do país.
Com a morte de Thomas Sankara, o processo de desenvolvimento de Burkina Faso sofreu um rude golpe, pois voltou a ter um governo submisso aos interesses neocoloniais da França e dos Estados Unidos.
Agora, conhecendo profundamente a história do seu país, o presidente Ibrahim Traoré poderá tomar as cautelas necessárias para preservar a revolução em marcha.
Viva a altivez de Ibrahim Traoré!
Que o sonho de Thomas Sankara se realize!
Que a África se liberte dos grilhões que a impedem de crescer, viver em paz e bem!
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