O Liberalismo é marcado por grandes contradições – condição que, no fundo, o desqualifica como modo sério de pensar a organização da sociedade.
Algumas destas contradições decorrem do Egoísmo sobre o qual se baseia o Liberalismo, levando os seus adeptos a pensarem que sua própria liberdade é mais importante do que a liberdade dos outros e, nesta esteira, produzindo um tipo de relacionamento social baseado na força dos seus membros, pois, em ambiente desregulamentado, a liberdade do mais poderoso se sobrepõe à liberdade dos menos poderosos.
Assim, de contradição em contradição, o Liberalismo vem atravessando os tempos, se impondo como a forma de governo mais adequada aos interesses dos poderosos e, pelo encanto que suas palavras-chave encerram, como a mais aceitável à sociedade não-pensante, especialmente aos seguimentos marcados pela submissão intelectual e pelos complexos de Estocolmo e de Nova York.
Pois bem.
Durante muito tempo, dizendo cumprir fundamentos do Liberalismo, com o objetivo de construir o paraíso dos poderosos, os lideres capitalistas defenderam teses com o Estado mínimo e a desregulamentação dos mercados.
Foi com este desígnio, por exemplo, que, na década dos anos 80, a dupla Margareth Tatcher & Ronald Reagan impulsionou o chamado Neoliberalismo, estimulando a globalização dos mercados através da supressão das barreiras alfandegárias e consequente criação das empresas globais.
E veio o tempo das áreas de livre comércio – Nafta, Mercosul, União Europeia, ASEAN, USMCA, ALCA – blocos de países que, em nível regional, adotaram as recomendações liberais e suprimiram as fronteiras econômicas, em atitude que, na prática, ao ampliar os mercados, isentando-os de mecanismos protecionistas, favoreceram a ação das grandes empresas, tornando-as transnacionais.
Com as possibilidades abertas pelas áreas de livre comércio e natural criação de ambiente favorável a atuação das mais fortes (o paraíso buscado pelo liberalismo), as pequenas empresas nacionais foram sufocadas pelas empresas transnacionais em fenômeno que redundou na extrema concentração de riquezas – tudo exatamente como previsível no liberalismo.
Acontece que, livres das ‘ameaças’ protecionistas, as empresas transnacionais puderam valorizar as economias de escala, adequando seu funcionamento às novas possibilidades, com a busca de melhores resultados pela redução de custos (mão-de-obra, insumos, logística, eventual tributação local, etc.) e conquista de novos mercados.
Nesta nova dinâmica, em decisões de longo prazo, muitas empresas terceirizaram a produção de insumos e outras atividades, adotando políticas impraticáveis noutras condições, e chegando, mesmo, a promover alterações geográficas nos parques fabris e administrativos.
Tudo seguia conforme previsto até que … chegou Donald Trump, um líder liberal de quatro costados e, portanto, adepto do livre mercado, do Estado mínimo, do laisser passer.
Mas, não foi bem assim, pois, como exemplo vivo do Liberalismo, Donald Trump carrega o gene da contradição nas veias.
De fato, ainda nos primeiros dias de mandato, o líder capitalista e liberal mais poderoso do planeta, arrasou a tese do Estado mínimo e, dizendo buscá-lo [buscar o Estado mínimo], agiu como governante plenipotenciário (só encontrado nos Estados máximos) e tomou uma série de medidas à revelia dos poderes legislativo e judiciário dos Estados Unidos.
Desmoralizada a tese do Estado mínimo, Donald Trump investiu contra outros pilares do Liberalismo, demolindo a Desregulamentação e o Livre Comércio. Com efeito, ao decretar o tarifaço em 03 de abril de 2025, Donald Trump desmoralizou a tese da Globalização dos mercados que embalou o neoliberalismo e, de quebra, tornou sem efeito o planejamento estratégico das empresas transnacionais, válido apenas para o cenário de livre comércio prevalecente até então.
Ninguém sabe exatamente aonde vai levar a política econômica de Donald Trump. Sabe-se apenas que não há limites para as contradições próprias do Liberalismo.
De sua parte, confirmando representar a essência do Liberalismo, nos últimos dias, Elon Musk demonstrou saber até onde vai o conceito de Estado mínimo e, usando o prestígio do cargo que ocupa no governo de Donald Trump, levou o Pentágono a fechar um contrato de US$ 13,5 bi com a SpaceX para lançamento de foguetes (esse negócio de Estado mínimo só vale para limitar a oferta de serviços para a população necessitada).
Donald Trump e Elon Musk têm muito a ensinar sobre o Liberalismo àqueles que pensam saber alguma coisa sobre ele.
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