Nunca houve dúvida sobre o poder dos sacerdotes. Por dizerem ter contato direto com Deus, os sacerdotes sempre foram respeitados e temidos, justificando sua usual postura de arrogância e prepotência.
Não foi sem razão que, encastelada no Sinédrio, a turma de Caifás exigiu e conseguiu a execução de Jesus. Naquele episódio (tão bem relatado na Bíblia), o executado foi Jesus, mas poderia ter sido qualquer um que questionasse o poder dos sacerdotes.
E, nesta wibe, sempre evocando o poder de Deus, ao longo da história, foram instaladas Teocracias – sistemas de governo nos quais a fonte da autoridade política é uma religião – comandadas por ‘homens santos’, em regimes tanto mais fortes quanto mais ignorantes são os fiéis.
Em contraponto, quanto mais evoluída for a sociedade, maior será a ‘intimidade’ das pessoas com Deus (que, para a maior parte das religiões, é onipresente, estando por toda a parte) e, portanto, menor será a necessidade de intermediários para fazer o contato com Ele e, consequentemente, menor será o poder dos sacerdotes.
Neste embalo, as sociedades mais civilizadas são menos afeitas às Teocracias e, mesmo, costumam não compreender regimes como aqueles que funcionam no Irã e no Afeganistão (estranhamente, talvez pelo seu caráter exótico e por não dispor de força militar, o Vaticano passa despercebido e escapa da lista dos ‘regimes abomináveis’), considerando ‘inadmissíveis’ fatos como o assassinato do escritor Salman Rushdie cujo ‘crime’ foi ter escrito o romance ‘Versos Satânicos’, considerado blasfemo pelos aiatolás.
Pois bem.
Em significativa prova de que o mundo dá voltas – avançando e recuando ao sabor de fatores que escapam a compreensão dos mais lúcidos -, apesar de ser considerado uma demonstração de baixo índice civilizatório, cresce por toda a parte um movimento marcado pela submissão de comunidades àqueles que dizer ter intimidade com Deus, insinuando a instalação de teocracias lideradas por sacerdotes.
É nesta perspectiva que deve ser interpretado o surgimento e o alastramento das igrejas evangélicas, as quais, sob as mais diversas denominações, espocam por toda a parte. ‘Deus é Fiel’, ‘Foi Deus que me deu’, ‘Tudo posso naquele que me criou’, ‘Ele está voltando’. As ruas estão cheias de carros que ostentam dísticos com frases de motivação religiosa. A comunicação por rádio e televisão está repleta de emissoras pertencentes a pastores e grupos religiosos. O mesmo acontece nas casas parlamentares, onde surgem e crescem as bancadas religiosas.
Nos últimos dias, chegou ao publico a informação de que, depois de aprovar uma Le que permite um período diário dedicado à oração ou leitura de textos religiosos nas escolas públicas do Texas, nos Estados Unidos, um projeto-de-lei que obriga as obriga a exibir cartazes dos ‘Dez Mandamentos’ em todas as salas [das escolas públicas do Estado] e, ainda, determina que o procurador-geral ofereça defesa legal àquelas [as escolas] que enfrentarem processos por isso aguarda sanção do governador Greg Abbott.
Para não ficar por trás, vereadores de Belo Horizonte aprovaram o projeto-de-lei 825/2024, que autoriza a leitura da Bíblia em escolas públicas e particulares “para disseminação de conteúdo cultural, histórico, geográfico e arqueológico”.
Como argumento para justificar leis deste tipo, seguindo a orientação de pastores evangélicos, os parlamentares reacionários vêm usando o discurso de que ‘quando você lê a palavra de Deus, é Deus falando no seu coração, é cura interior. Deus te ensina o caminho da verdade, das boas companhias, pois Jesus é o caminho”.
Se esta turma não for contida, em breve vão surgir projetos-de-lei propondo o retorno das fogueiras como forma de punir os infieis e purificar-lhe as almas.
Leia mais em
www.alexandresanttos.com.br