Com carreira politica associada a valores ultraconservadores e desvios de conduta (como a notória misoginia e a zoofilia eventual por ele admitida em entrevista ocorrida há tempos), Jair Bolsonaro fez escola e, naturalmente, ampliou seu campo de influência ao chegar à presidência da república.
Vale dizer que, a depender da sua índole, a influência do líder sobre as pessoas pode ocorrer tanto para o bem como, também, para o mal.
No caso de Bolsonaro, evidentemente, a influência foi e é para o mal. Sua hoplomania, por exemplo, já provocou a morte de muitas pessoas e, em contrapartida, a prisão de muitas outras, as quais, diga-se passagem, teriam passado ao largo do crime se não fosse a lei permissiva para aquisição de armas.
Uma das inúmeras facetas do mal apresentadas por Bolsonaro se refere ao machismo, ao desrespeito pelas mulheres – um sentimento e comportamento que, não só contaminou espíritos truculentos, acirrando a intolerância sexual e a violência contra a mulher por toda a sociedade, mas também percolou os diversos escalões da administração pública, tornando-a ambiente naturalmente simpático aos machos e ao machismo.
Quantos espíritos fracos não terão sido arrebatados ao saber que, ao longo da vida, o presidente da república se referiu à única filha como fruto de uma ‘fraquejada’; ou que, se referindo a uma deputada, disse que não a estuprava “porque você não merece”; ou que usava seu apartamento funcional para “comer gente”? E, assim, inspirados na maior autoridade da república (e sentido-se por ele protegidos), cada qual a seu modo e em diversos níveis de gravidade, muitos tarados sentiram-se livres para agir.
Foi assim, por exemplo, na Caixa Econômica Federal, onde o presidente Pedro Guimarães – o qual, vale lembrar, por algum tempo, esteve cotado para a posição de vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro – passava o tempo disponível atacando as mulheres.
As denúncias do assédio sexual de Pedro Guimarães a servidoras do banco foram feitas há tempos, mas, contidas pelo ‘clima Bolsonaro’ que permeia a administração pública federal do Brasil, ficaram restritas às corregedorias internas até [as denúncias] virem a público com estardalhaço pelo ‘Metrópoles’.
Mesmo assim, a julgar pela nota distribuída pela Caixa Econômica Federal – “A Caixa não tem conhecimento das denúncias apresentadas pelo veículo e esclarece que adota medidas de eliminação de condutas relacionadas a qualquer tipo de assédio…”, disse a nota – a administração Bolsonaro tentou abafar o caso. Acontece que, de tão escandaloso, [o caso] tomou o noticiário e, sem alternativa, Pedro Guimarães foi forçado a pedir demissão.
Ao contrário daquilo que alguns pensam, a demissão de Pedro Guimarães não resolve o problema.
Nunca é demais lembrar que, enquanto o escândalo sexual da CEF estarrecia a Nação, o Tribunal de Justiça de São Paulo confirmava a condenação do presidente Jair Bolsonaro pelos danos morais contra a jornalista Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S. Paulo, por ele insultada com a insinuação de que [ela] havia oferecido trocar informações por favores sexuais (“Ela queria um furo e estava disposta a dar o furo por ele”, disse o presidente, depreciando matéria sobre esquema de financiamento ilegal para disparos de mensagens em massa durante a campanha eleitoral de 2018.
Pedro Guimarães saiu, mas o governo Bolsonaro continua cheio de tarados, incluindo o próprio presidente.