Entre as técnicas mais antigas do controle social exercido pelas elites sobre a sociedade figura a lenda da ‘incapacidade natural’ da plebe (os negros, os pobres, os comuns, enfim o Povo) fazer ‘coisas boas’, estabelecendo à priori uma regra de avaliação.
Evidentemente, esta tal ‘incompetência natural’ não decorre de qualquer apreciação objetiva e, além de refletir o modo preconceituoso de como as elites veem o mundo, este comportamento indica o medo de as elites perderem o controle e a hegemonia que pretendem sobre a feitura e a existência das coisas boas e [indica o medo de] ganharem a concorrência de novos atores.
Por este modo de agir e de pensar das elites, só aquilo feito por elas [ou por alguém previamente certificado e orientado por elas] tem qualidade e merece valor e, em contraponto, qualquer coisa feita por ‘um qualquer’ ou por alguém não-certificado ou orientado [por elas] tem qualidade ou merece valor.
Aliás, observar o critério usado no processo de apuração da qualidade ou do valor dos projetos, empreendimentos e produtos oferece parâmetro para a apreciação do próprio avaliador e da avaliação – aquelas que, ao invés de considerar critérios objetivos, se concentram em perfumarias, como a origem politica ou social dos autores, não podem ser consideradas boas análises e, provavelmente, decorrem do modo de pensar elitista.
Estas observações se aplicam a todos os campos do relacionamento humano, inclusive a politica e a economia.
De fato – em exemplos concretos de como, com o objetivo de depreciar quaisquer outros e manter a hegemonia da condução dos processos, as elites veem usando a tese da ‘incapacidade natural’ para desqualificar excelentes projetos, empreendimentos e produtos – a história da humanidade é pródiga em mostrar episódios nos quais, atentas exclusivamente aos próprios umbigos, sem qualquer preocupação com a elevação dos padrões econômicos e sociais das sociedades, as elites torcem o nariz e fazem de tudo para inviabilizar magníficas experiências.
Foi assim, por exemplo, em 2019 na Bolívia, quando – horrorizadas com a sua transformação de ‘república de bananas’ em país respeitado, preocupado com a soberania e bem-estar social -, com apoio internacional, as elites locais forçaram a queda do governo de Evo Morales.
É o caso dos criminosos embargos mantidos pelos Estados Unidos contra os governos de Cuba e da Venezuela, cujo sucesso desmoralizaria o discurso contra o socialismo adotado por aqueles países.
Não é outro o sentido da recente pesquisa feita pelo instituto Genial/Quaest junto aos principais executivos do mercado financeiro brasileiro que – à despeito do excelente desempenho econômico (menor nível de pobreza e de extrema pobreza com a ascensão de 8,7 milhões de pessoas da linha da pobreza, elevação do PIB, queda da carga tributária, desaceleração da inflação, desempenho positivo das exportações e do consumo das famílias, redução da taxa de desocupação, recorde do número de pessoas ocupadas e criação de milhões de novos postos de trabalho) – apontou a avaliação negativa do governo Lula por 90% dos entrevistados.
O desconforto demonstrado pelas elites com o sucesso decorrente de políticas progressistas e humanistas não traduz apenas o seu preconceito, significando, sobretudo, o seu medo de que as pessoas percebam que outras formas de organização social, econômica e política são mais eficazes e melhor atendam as suas necessidades, vontades e desejos.
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