Sou daqueles que acredita na importância política da literatura e, mais ainda, [acredita] que essa importância é revel da vontade do escritor, pois, independentemente do estilo e objetivo pretendido pelo autor, ao ser degustado pelo leitor, o texto ganha asas próprias e alcança dimensão nem sempre prevista originalmente. De fato, como na maior parte dos casos redunda em aumento da capacidade das pessoas compreenderem os textos que lêem, o hábito da leitura tende a fortalecer a resistência às manipulações e deformações das informações, ampliando a sua possibilidade de formar opiniões e influenciar decisões. Esta é a razão de os escritores serem as primeiras vítimas dos regimes autoritários, cuja preservação depende do comportamento amorfo da sociedade.
Ao contrário de outras liguagens artisticas, cuja estética pode anestesiar as pessoas, criando um não-pensar que as aliena, entregando-as à vontade solitária do ditador, a compreensão da literatura requer a elaboração de raciocínios que, a depender a formação e do pendor do leitor, podem encaminhá-lo à crítica da realidade circundante, representando, assim, grande risco à alienação e tudo o mais que dela dependa.
Naturalmente, a importância política da literatura cresce quando, além dos impactos inerentes à leitura em si, há a intenção do escritor manifestar ideias ou denunciar situações. Neste caso, o ‘perigo’ da leitura é potencializada segundo o valor das ideias, das denúncias apresentadas e, claro, da empatia despertada no leitor.