Uma obra de arte – qualquer que seja ela: um quadro, uma escultura, uma pintura, um filme, uma peça de teatro, um livro – só pertence integralmente ao autor até a sua entrega ao público. A partir daí, sujeita às preferências, gosto e crítica de cada um, as obras ganham cores e sabores segundo o olhar e ponto de observação de quem a desfruta, passando a outra esfera de pertencimento. Com efeito, ao colocar a última pincelada, a letra derradeira, o cinzelar definitivo, o autor conclui a sua contribuição para a obra, cuja interpretação passa integralmente à forma como ela [a obra] impressiona e se faz compreender pelos outros. Esta é a razão de as obras parecerem diferentes quando vistas e descritas por pessoas diferentes.
Naturalmente, em função da sensibilidade e da competência de quem a descreve, uma obra pode parecer melhor ou pior do que aquela produzida originalmente. Este fenômeno é responsável pelo grande número de pessoas que prefere conhecer as obras a partir da opinião e interpretação de terceiros – que assumem a condição de formador de opinião -, cuja crítica, interpretação e reinterpretação pode ajudar a realçar e elucidar aspectos da obra, em atividade que, em certa medida, as reescreve, concedendo a eles uma espécie de coautoria. De fato, ao longo do tempo, nos diversos instantes que compõem a história, as contribuições de autores e apreciadores terminam por fundir-se para repaginar e reconfigurar a obra original, compondo ‘novas obras’, em construção permanente, renovada ao sabor dos olhares e expectativas da comunidade cultural. Assim, guardada a devida proporção, de alguma forma, criadores, críticos e apreciadores terminam por compartilhar momentaneamente a autoria da obra (ou, pelo menos, da forma como ela é vista na ocasião).