O Universo só existe porque pessoas falam sobre ele. Pode parecer surreal, mas, se ninguém falasse do Universo, ele não existiria. Seria algo disforme, imóvel, silente, inconsistente, sem cor, [sem] cheiro, [sem] sabor, [sem] direção, [sem] charme, [sem] molho, [sem] vida, sem nada. Na realidade, o universo é aquilo que as pessoas dizem dele.
Embora pareça simples, esta observação é de natureza complexa e tem muitas implicações, inclusive porque, como cada pessoa descreve o Universo à seu modo – não apenas como o sente, mas, também como quer e consegue [descrever], naquilo que se convencionou chamar de Estilo -, é lícito dizer que, convivendo entre si como convivem as pessoas que falam sobre ele, existem tantos [Universos] quantos forem os panoramas relatados. Que loucura! É muita coisa junta e misturada, especialmente porque, em função da superposição de detalhes descritivos, os Universos se interpenetram e coleiam entre si, formando a confusão que compõe o mundo que conhecemos (ou pensamos conhecer).
Aliás, para equalizar a miríade de Universos que coabitam a plataforma que sustenta a todos, possibilitando o entendimento das pessoas, a sociedade recorre à instrumentos como a modulação da opinião coletiva através de definições básicas, entre as quais os padrões de medida e os instrumentos de comunicação.
De qualquer forma, apesar de viverem Universos personalíssimos, as pessoas transitam intermundos, em relacionamentos nos quais, incorporando um pouco dos outros e deixando um pouco de si para os outros, conhecem e fazem conhecer vivências, experiências e modos de ser e de agir. Este intercâmbio é fundamental para o convívio entre as pessoas, pois, de certa forma, mesmo sem eliminar as diferenças, produz algum tipo de essência que azeita arestas e revela pontos de harmonia. Aliás, da convivência com novas percepções e modos de descrever sensações, é possível que, reconhecendo-se no outro a quem chamam de Mestre, interlocutores sejam seduzidos e dele se tornem pupilos. Evoluindo a originalidade, os pupilos passam a professar o jeito de ser do Mestre, cujo estilo cria uma Escola. Neste caso, já sentindo e descrevendo sensações sob nova perspectiva, o pupilo passa a descrever o novo universo do qual passou a fazer parte, fazendo mover a história.
Este é um antigo sistema de evolução.
Ao aderir a uma Escola, os pupilos costumam, inicialmente, imitar o mestre, seguindo o seu estilo [do mestre] e, com o passar do tempo, [os pupilos] empoderados com a segurança advinda da convivência, desfrutam a chance de introduzir contribuições pessoais, podendo desenvolver Estilo próprio, atrair seguidores e, assim, criar a sua própria Escola, fazendo-se mestres de novas gerações.