No primeiro trimestre de 2022 – ao tempo que, numa favela brasileira, no único cômodo de um casebre infecto e mal servido, com fome e desempregada, Dona Maria da Silva cuidava da enorme ferida adquirida ao queimar parte do corpo com o álcool usado para substituir o bujão de gás cujo preço passou a consumir mais de 10% do salário do marido -, em sua sala refrigerada na Wall Street, Mister John Sullivan espocava uma garrafa do mais fino champanhe para comemorar os lucros estonteantes auferidos pela Petrobrás.
Mister John Sullivan é um dos felizes sócios minoritários da Petrobrás, que ficam cada vez mais ricos com a miséria de pessoas simples como Dona Maria da Silva (que não tem mais o que comer porque a prioridade do governo é enriquecer ainda mais pessoas como o Mister John Sullivan).
Embora construído com dados fictícios, este texto retrata exatamente aquilo que, genericamente, ocorreu naquele período, quando, num salto de 3.000% em relação a igual período do ano anterior, a Petrobrás apresentou lucro superior a R$ 44 bilhões.
De sua parte, sem saber da situação que aflige as dezenas de milhões de Donas Marias da Silva pelo Brasil e fingindo não saber que representa o sócio majoritário da Petrobrás, mas sabendo, exatamente, que está às vésperas de uma eleição, o presidente Jair Bolsonaro reclamou uma bravata qualquer, culpou o dólar, a Ucrânia e os governadores e parou por aí.
Parece impensável uma empresa estratégica como a Petrobrás ser conduzida com o objetivo único de ‘dar lucro’ aos sócios minoritários. Infelizmente, entregue ao liberalismo, o governo do Brasil almeja o Estado mínimo e pensa que, para isso, não deve governar.
Ainda bem que este tempo está chegando ao final.