Os escritores – como, de modo geral, todos os artistas – são exibidos. Isto ocorre porque a maior ambição do artista é fazer a sua arte ser conhecida pelo mundo e pela humanidade. Essa é a razão de os artistas plásticos sonharem com as exposições, os dramaturgos e cineastas [sonharem] com as apresentações e exibições, os músicos [sonharem] com os shows, os dançarinos [sonharem] com as festas, os estilistas [sonharem] com os desfiles, os gourmês [sonharem] com os jantares e, assim, por diante. Respeitadas as exceções (que confirmam a regra), esse ‘amostramento’ acontece com todos os artistas, sejam eles iniciantes ou experimentados, populares ou eruditos, em formação ou consagrados. De fato, todos [os artistas] querem exibir a sua produção artística e – sabendo que, no mundo da arte, só existe aquilo que é mostrado e, em contrapartida, sentido – alçam este comportamento e desejo à condição de objetivo – o qual, diga-se de passagem, não pode ser interpretado como um caso banal de puro ‘exibicionismo’.
Na realidade, passando ao largo da mera exibição, este anseio decorre da vontade do artista ser conhecido e reconhecido, não só pelo talento e pendor, mas, também, pela dedicação e contribuição que empresta à arte que o inspira e anima.
Noutra forma de ver a mesma questão, pode-se dizer que – além de querer modificar o universo e formar a opinião pública nos termos daquilo que acredita e defende e, ainda, conforme o modo como vê e mostra as coisas do mundo – o artista quer difundir as próprias ideias e pensamentos e, mais ainda, ser visto como agente da transformação e autor do quantum que [ele] aporta ao processo de mudança.
É neste contexto que, voluntária ou involuntariamente, os artistas produzem a sua obra, tendo, como contrapartida na visada inversa, o anseio dos apreciadores da arte – agentes passivos da cultura, cuja opinião e pensamento são influenciados e modulados pela opinião do artista, passando a constituir a grande correia de transmissão e difusão dos elementos formadores e modificadores do caldo de cultura que impregna e anima a sociedade. Esta combinação entre artistas e apreciadores da arte é responsável pelo movimento da humanidade rumo aos, sempre incertos, horizontes estabelecidos pelas modas culturais.
No campo da arte literária, movidos por sentimentos iguais àqueles que movem os demais [artistas], desejosos de oferecer e ter reconhecida a contribuição dada ao processo de modificação da humanidade, os artistas da palavra escrevem e sonham com a publicação dos textos, com o lançamento dos livros e com o contato com os leitores. De sua parte, na extremidade oposta da produção literária, como que ligados por uma espécie de cordão umbilical por onde fluem e refluem os estímulos inversamente recíprocos da escrita e da leitura, os leitores almejam o desfrute dos textos, em gesto de cumplicidade artística que termina por inculcá-los e envolvê-los, inserindo-os no processo e tornando-os elementos-chave do movimento de modulação da forma de pensar e de interpretar a ficção e a realidade circundante. Nesta perspectiva, além de essencial para o avanço das relações sociais, o ‘amostramento’ do escritor é parte da arte que cativa, seduz e empolga o leitor.
Louvemos, pois, o ‘amostramento’ do artista.
Louvemos, pois, o ‘amostramento’ do escritor.