Ao observar o resultado do segundo turno das eleições de 2022, verificando que o candidato perdedor obteve 49,10% dos votos válidos (58,20 milhões de votos) – um contingente enorme, que, sem fazer distinção, inclui os chamados ‘anti-petistas’, votos-comprados (pelas PECs eleitorais) e votos-iludidos (pela campanha enganosa das fakenews) -, muitos apreciadores da cena política do Brasil atribuíram a Jair Bolsonaro méritos nele inexistentes, inflando sua capacidade e liderança.
De fato, bastaram poucos meses de retorno à planície para a imagem de Bolsonaro perder grande parte da roupagem artificial nele vestida, mostrando, progressivamente, a sua pequena envergadura política.
Na realidade, a conjunção de informações e episódios recentemente verificados –
a realidade levantada pela equipe de transição com a apatia pós-eleitoral e fuga de Bolsonaro para os EUA, [com] o respeito prestado ao presidente Lula pela comunidade internacional, [com] a onda de terror e a tentativa de golpe de Estado pelos bolsonaristas, [com] a revelação da penúria da população yanomami e [com] outras coisas – vem revelando o ‘verdadeiro’ Bolsonaro, desmotivando admiradores de ocasião e afastando simpatizantes, fazendo aparecer a sua diminuta expressão política.
Este fenômeno ficou mais claro no dia 1º de fevereiro, quando – lançada para animar a militância ou, talvez para testar forças parlamentares – a candidatura do bolsonarista Rogério Marinho à presidência do Senado alcançou 32 votos, sendo derrotada por Rodrigo Pacheco (que obteve 49 votos). Sem atentar que, além dos partidários de Bolsonaro, o resultado da candidatura Marinho também incluiu votos de descontentes de diversas naturezas e de muita gente do Centrão, a extrema-direita comemorou a votação, dizendo-a representar número superior àquele necessário para a solicitação de abertura de CPI.
Uma conclusão equivocada, pois, como sabemos, em matéria de funcionamento parlamentar, a posição dos ‘descontentes’ e do pessoal do Centrão é circunstancial e responde ao sabor de negociações pontuais.
De qualquer forma, a presença de expressiva bancada bolsonarista – com destaque para Romário, Marcos Pontes, Ricardo Sales, Damares Alves, Sérgio Moro, Bia Kcis, Carla Zambelli, Flávio Bolsonaro, Marcos do Val e tantos outros – indica o poder de fogo da extrema-direita, que vai fazer de tudo para atrapalhar a recuperação e a conquista de direitos sociais.