‘Descobri que vou morrer’. A frase dita pelo meu amigo com olhos marejados parecia anunciar o fim do mundo. Minimizei a gravidade da situação e, com uma ponta de ironia e um toque de humor, retruquei: ‘E só agora você descobriu isto? Pois, eu sei que vou morrer desde o dia em que nasci’. Depois deste início um tanto traumático, a conversa fluiu e ganhou um rumo ‘normal.
Há muito estou convencido de que nossa permanência nisto chamado ‘Vida’ não começa com o nascimento, nem termina com a morte. Segundo a minha perspectiva, nascimento e morte são apenas dois pontos de inflexão de uma jornada extremamente longa, sobre a qual ninguém-sabe-de-onde-vem-nem-sabe-para-onde-vai.
Estas observações enquadram este assunto no vasto campo das reflexões filosóficas e das convicções religiosas, áreas que passam ao largo das preocupações ou arrebatam corações da maior parte das pessoas – as quais, mesmo assim, se ‘surpreendem’ com coisas sabidas por todos desde sempre (como a morte, por exemplo).
Da minha parte, reconhecendo ignorância e incapacidade para compreender os assuntos complexos (que chamo ‘coisas de Deus’), me declaro agnóstico e, procuro centrar minhas preocupações em temas sobre os quais [eu] consiga, pelo menos, entender, como, por exemplo, o objetivo do homem e da Humanidade.
Na estrada da vida, optei pela convivência grupal e, portanto, pela divisão do trabalho, [pela] ajuda mútua, [pela] solidariedade pessoal e social, por coisas assim.
Talvez esta seja a causa da minha ojeriza pela relações marcadas pelo egoísmo, sentimento que impele as pessoas a quererem tudo para si, se contrapondo aos esquemas solidários, dando origem a todos os males que perturbam a sociedade e [que] podem levar a Humanidade à extinção.
Se não fosse o Egoísmo, embora existissem pessoas muito abastadas, não haveria multidões de miseráveis, famintos, desabrigados, dependentes da violência ou da caridade alheia para sobreviver.
Estou convencido que, se Humanidade conseguir reprimir o Egoísmo (ou conte-lo em limites aceitáveis), criando a ambiência favorável para a Solidariedade se espraiar, todos conseguirão atravessar sua efêmera passagem pela Terra de forma mais confortável e, segundo penso, melhor preparados para a jornada que aguarda a todos além da segunda grande inflexão da vida.