No ano passado, diante da inação do governo frente ao avanço à pandemia de Coronavírus no Brasil, apesar dos esforços contrários da bancada governista e da má vontade inicial do senador-presidente Rodrigo Pacheco, acolhendo determinação do STF, o Senado instalou uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar o descaso e as omissões do governo federal naquilo que veio a se transformar no maior morticínio ocorrido no Brasil, já tendo provocado a morte de quase 700 mil brasileiros.
O funcionamento da CPI do Genocídio foi muito revelador da irresponsabilidade e, mesmo, perversidade como o governo tratou o caso.
E, cada vez mais estarrecida e assustada, a sociedade tomou conhecimento da inexplicável relutância do governo federal comprar as vacinas redentoras; [conhecimento] do uso da população do Amazonas como cobaia para experiências patrocinadas pelo ministério da saúde; [conhecimento] da corrupção que orientou o mecanismo de aquisição de vacinas (quando ganhou notoriedade o famoso ‘um dólar por dose’); [conhecimento] da prevaricação cometida por Bolsonaro, que, mesmo sabendo das traquinagens desonestas cometidas pelo deputado Ricardo Barros, abafou o caso e o manteve na liderança do governo; [conhecimento] da cumplicidade do governo Bolsonaro com empresas mercadoras da morte (como a Prevent Senior e lobistas do setor médico); [conhecimento] do envolvimento do general Eduardo Pazuello em esquemas para impor tratamentos ineficazes às infecções por coronavírus; [conhecimento] da existência de um gabinete paralelo formado por profissionais incompetentes e empresários inescrupulosos que formulavam e conduziam a política de saúde do País; [conhecimento] do expurgo da ciência no processo decisório do enfrentamento à pandemia, entregando-o a militares leigos.
Graças à CPI do Genocídio, o País soube da inércia inicial e, depois, da forma cúmplice e parceira que o governo Bolsonaro assumiu com o vírus, provocando mortes desnecessárias, espalhando luto e sofrimento.
Pois bem.
Agora, como se nada disso tivesse acontecido, como se a morte desnecessária não tivesse levado pais, mães, avós, filhos, parentes, amigos, colegas, conhecidos, deixando órfãos e desamparados, como se não tivesse havido qualquer crime no curso do mau-fadado enfrentamento ao coronavírus, confirmando aquilo que todos sabem, a Procuradoria Geral da República pediu o arquivamento de todos os processos decorrentes da CPI do Genocídio capazes de levar Jair Bolsonaro aos tribunais. O vergonhoso comportamento da PGR não nos surpreende.
Temos, no entanto, confiança na seriedade do Supremo Tribunal Federal, que, como órgão máximo do poder judiciário, pode recusar a imoralidade proposta pela PGR e dar continuidade aos processos capazes de punir os criminosos e fazer justiça ao sofrido Povo brasileiro.