02 de junho de 2024
AS CATÁSTROFES E AS OPORTUNIDADES ECONÔMICAS
Alexandre Santos
Apesar de provocarem dores e sofrimentos, do ponto de vista dos negócios, no rastro da destruição, as catástrofes trazem grandes oportunidades. Imaginem, por exemplo, os ataques às torres gêmeas do World Trade Center. Embora tenham suscitado preocupações com a eventual debacle da ‘economia dos Estados Unidos’ (porque, de fato, provavam que as forças armadas norte-americanas eram impotentes para proteger o país e, portanto, [impotentes] para impor o dólar – uma moeda sem lastro – como moeda universal), aquela destruição toda gerou muitos negócios – fornecimento de sacos fúnebres, serviços funerários, demolição de escombros, recolhimento de destroços, construções e reconstruções, venda de móveis, de utensílios, de máquinas, de equipamentos, vendas disso, vendas daquilo, um montão de negócios, inclusive na área militar, envolvendo bilhões e bilhões de dólares. É sempre assim. Foi assim com a invasão do Iraque (lembro que, como argumento para ampliar a aliança militar liderada pelos Estados Unidos, George W. Bush prometia a inclusão dos aliados na ‘reconstrução do Iraque’), será assim na Ucrânia, etc. A grande realidade é que, diante das desgraças, os capitalistas passam ao largo de sentimentos e, ao invés de chorarem as mortes e as perdas, tratam de pensar em como ganhar dinheiro nos negócios a elas associados. Não será diferente no Rio Grande do Sul, onde, do ponto de vista concreto, em decorrência da destruição advinda do desastre ambiental, há um montão de negócios à espera dos empreendedores. Não foi sem razão que, diante da dinheirama anunciada pelo governo federal para socorrer o Rio Grande do Sul, com os sentidos postos exclusivamente nos cifrões, o prefeito Sebastião Melo se apressou em contratar a empresa norte-americana Alvarez & Marsal para gerenciar a reconstrução de Porto Alegre e, com motivação e agilidade semelhante, o governador Eduardo Leite nomeou um especialista em privatização e em desestatização para conduzir a secretaria criada para cuidar da reconstrução do Estado. O governo Lula não pode descuidar deste aspecto – ao lado do socorro aos gaúchos e da reconstrução do Estado do Rio Grande do Sul, há uma oportunidade ímpar para a reorientação econômica, de modo a estimular seguimentos, descentralizar rendas e corrigir distorções. Não teria sentido o governo Lula se deixar usar para, através da verba disponibilizada para o socorro ao gaúchos e a reconstrução do Rio Grande do Sul, fortalecer ainda mais empresários que, de tão ávidos por ganhar dinheiro, são, em última instância, os maiores responsáveis pelo desastre ambiental no Sul do país. Que a reconstrução do Rio Grande do Sul minimize sofrimentos e contribua para lançar as bases de um regime de justiça econômica e social.
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