Esta é a história de Juan del Toro, um cafajeste que, por obra do acaso, chegou à presidência da República dos Cravos e, ao final de um mandato desastroso, marcado pela incompetência e pela inapetência e manchado pela corrupção de todas as naturezas, tendo tomado gosto pelas sinecuras, propinas e golpes de tamanhos variados por ele desfrutados com avidez, tentou permanecer no cargo mesmo sem ter sido reeleito, mas, com o fracasso da rebelião que ele próprio impulsionou, enfrentou problemas com a Justiça e foi condenado à longos anos de prisão.
Abandonado pelos antigos cupinchas, Juan del Toro viveu a solidão do cárcere sempre alimentando o sonho de voltar à cadeira maior do Palácio das Hortênsias e, falando consigo próprio, repetia sem parar que voltaria ao poder.
Juan del Toro sempre foi um problema para a família e para a vizinhança na longínqua Estrella Peladda.
Sua partida para a Capital, onde ingressou na Guarda Republicana, foi festejada por todos os estancieiros, os quais, em meio a festas, comemoraram a partida de ‘um ladrão de galinhas’.
Como acontecia por todos os lugares por onde passava, em pouco tempo, Juan del Toro arrumou problemas na Guarda Republicana, de onde foi expulso depois da vir a tona o seu conluio com o cabo Aristides para o desvio de mantimentos e fardamentos para o comércio local.
Já na condição de civil, Juan del Toro fez confusão no bordel da cidade, de onde retirou Juju BT, com quem, diga-se de passagem, casou e teve alguns filhos.
As más línguas diziam que Juju BT era uma interesseira, mas, fossem quais fossem os seus defeitos e motivações, formava uma dupla perfeita com Juan del Toro, a quem ajudou a montar um esquema de venda de presentes recebidos de autoridades estrangeiras e de empreiteiras interessadas na sua boa vontade.
Também foi Juju BT quem o ajudou a transformar em dinheiro vivo as verbas destinadas a compra de vacinas por ocasião da febre que matou quase metade da população do país.
Nunca ninguém compreendeu quando, já no ocaso da carreira, à espera da condenação pela Justiça, Juju BT abandonou Juan del Toro e o trocou pelo cabeleireiro que a atendia (tido por todos como efeminado).
E, assim, cercado de reminiscências, investigado, denunciado, condenado e sentenciado, Juan del Toro foi recolhido ao complexo penal da Laguna Seca. Uma tristeza!
Com mal sabia escrever o próprio nome, nem tentou escrever sua biografia como (já sabendo que daquela moita não sairia nada) alguém sugeriu.
Não havia chance de Juan del Toro ser anistiado ou beneficiado por algum recurso jurídico. Juan del Toro estava perdido.
Mesmo assim, talvez como tábua de salvação, confiava nas palavras do pastor que, todas as semanas, depois de receber o polpudo dízimo para a igreja Mesa dos Sortudos do Paraíso, o entusiasmava com palavras de conforto: “Alegre-se, meu mito. Embora você pareça morto, [você] continua vivo no coração de nossa gente”.
E assim, vendo o sol nascer quadrado todos os dias, Juan del Toro atravessava os tempos.
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