Outro dia, depois de perguntada com insistência, uma cantora gospel ensinou que, ao dizer-se ‘abençoada’ pelo pastor, ela dizia ter sido ‘paga’ e ter recebido o cachê combinado pelos seus serviços.
Assim, aprendi que, em mais uma evolução do vernáculo, a comunidade evangélica estava usando o verbo ‘abençoar’ – que, segundo o meu vocabulário, significaria apenas ‘lançar bênção a’ ou ‘abendiçoar’ – para designar o ato de ‘pagar alguma coisa, alegrando aquele que recebe o dinheiro’.
Passei, então, a compreender o alcance de todos aqueles ‘Glória’, ‘Amém’, ‘Aleluia’ e outras tantas palavras mágicas usadas com frequência pelos pastores e pelos fiéis.
Na realidade, sendo uma expressão da sociedade, a língua se desenvolve junto com ela [com a sociedade], incorporando meneios e neologismos próprios do Povo que a usa.
Claro que, neste processo, surgem os estelionatos da Palavra – crimes perpetrados intencionalmente por espertalhões, que, sabendo a sua força [força da Palavra], a usam de forma errada, inclusive com significados diversos dos seus, com o propósito de enganar, iludir, induzir a erro, enfim, manipular aquele que a ouve ou a lê.
Ontem, juntamente com todos os tele-expectadores da Globo News, aprendi mais uma.
Em explicação sobre as diferentes versões apresentadas para o confuso episódio no qual teria se encontrado com o ministro Alexandre de Moraes para denunciar convite que teria recebido do então presidente Jair Bolsonaro para participar de uma tentativa de golpe, o senador Marcos do Val desautorizou tudo aquilo dito por ele na ocasião: “A versão válida é aquela que prestei em depoimento à Polícia Federal”, disse o senador com a maior cara-de-pau. ‘E as versões anteriores, senador? Eram mentira?”, a jornalista perguntou espantada. “Não. Aquilo era uma técnica de persuasão para mobilizar a imprensa”, explicou Marcos do Val.
Desdenhando dicionários e a opinião de todos que, naturalmente estão impressionados com a flacidez e maleabilidade das suas versões, Marcos do Val jura que não é mentiroso e, sim, ‘persuasivo’.
Acredite quem quiser.
Na realidade, corroborando com o senador, os dicionários dizem que Persuasão é a capacidade de levar alguém a acreditar, aceitar, decidir ou fazer algo, valorizando a ‘Lábia’ como eficaz instrumento de persuasão.
É provável que, nos termos da liberdade de expressão por defendida pela turma do senador, a mentira seja apenas uma forma de ‘lábia’.
Seja como for, do meu ponto de vista, Marcos do Val é um grande mentiroso e nada me fará acreditar numa única palavra dita por ele.
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