De certa forma, uma organização reflete a personalidade dos seus líderes, inclusive porque a escolha daqueles que a operam [operam a organização] passa por critérios ajustados ao seu modo de pensar.
Assim, mesmo que alguns burocratas pensem diferente, a atual administração pública federal reflete o ‘jeito Bolsonaro de ser’ em todos os escalões.
Isto é visto por toda a parte.
A visão tosca e truculenta perturba e desvia objetivos por aqueles que conduzem a educação, a saúde, a cultura, o meio ambiente, a economia, a diplomacia, a defesa, a assistência social, a segurança, o desenvolvimento científico e tecnológico, enfim todos os setores, frustrando as expectativas das pessoas.
E, com este tipo de energia, as coisas vão acontecendo, levando-nos a pensar se vivemos num hospício ou se somos governados por loucos.
Num dia, descobrimos que, ao invés de proteger as populações originárias, o ministério da justiça condecora o presidente Jair Bolsonaro com a Ordem do Mérito Indigenista e faz vistas grossas para a investigação dos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. No outro, descobrimos que a presidência da Caixa Econômica Federal era ocupada por um tarado sexual (que, até pouco tempo, esteve cotado para a posição de vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro). E as coisas vão ocorrendo, misturando o descaso com o enfrentamento à Covid, com a corrupção instalada por gabinete paralelo no ministério da educação, com o cancelamento do encontro de Bolsonaro com o presidente português Marcelo Rebelo de Sousa porque, cumprindo velho costume diplomático, ele também vai se encontrar com Lula, o principal líder da oposição.
Está assim em todos setores da administração pública do Brasil e não seria diferente na Biblioteca Nacional – uma casa com mais de duzentos anos, que parece entregue às trevas.
Isto ficou claro, ainda no começo da gestão Bolsonaro, quando, desnudando o baixíssimo nível cultural da gestão bolsonarista, o então presidente Rafael Nogueira afirmou que o filósofo-da-Terra-plana Olavo de Carvalho “nos ajuda a pensar com liberdade”.
Mas, nada é tão ruim que não possa piorar.
Imagine que, agora, dando mais uma prova da irresponsabilidade como o governo Bolsonaro trata o provimento dos cargos da administração pública, em geral, e da área cultural, em particular, o novo presidente, um tal Luiz Carlos Ramiro Jr., resolveu condecorar o deputado fascista Daniel Silveira com a Medalha da Ordem do Mérito do Livro, logo Daniel Silveira conhecido pelo desamor à Democracia e a cultura, que ganhou fama por ter quebrado a placa da Rua Marielle Franco, por ter sido condenado pelo STF por incitar manifestações contra a Democracia e por receber indulto de Bolsonaro (gesto que, diga-se passagem, confirma a justeza da condenação).
Acontece que Luiz Carlos Ramiro Jr. não contava com o espírito cívico e democrático de outras pessoas indicadas para a comenda, incluindo os acadêmicos Marco Lucchesi e Antonio Carlos Secchin, que, ao saber da presença do fascista Daniel Silveira na relação dos agraciados, se recusaram a receber a medalha.
O comportamento de Marco Lucchesi e Antonio Carlos Secchin representa o sentimento do mundo cultural brasileiro que, veementemente, rechaça o desrespeito do governo Bolsonaro com o Brasil e com o Povo brasileiro.
Ainda bem que este tempo de trevas e sofrimento está no fim.
Excelente está reflexão Alexandre, vou compartilhar no FB e em alguns Grupos. Obrigado pela lucidez e coerência.