As organizações militares são estruturadas com base em dois princípios aparentemente simples: Disciplina – que pode ser reduzida à fórmula ‘ordem não se discute, [ordem]se cumpre’ – e Hierarquia – resumida por um simples: ‘o superior manda no inferior’. Pronto!
Com base nestes princípios, bem ou mal, os exércitos funcionam: sem discutir o mérito das ordens recebidas, o soldado obedece ao cabo, que obedece ao sargento, que obedece ao sub-tenente, que obedece ao tenente, que obedece ao capitão, que obedece ao major, que obedece ao tenente-coronel, que obedece ao coronel, que obedece ao general (de brigada, de divisão e de exército: nesta ordem), que obedece ao comandante da força, que obedece ao presidente da república (comandante-em-chefe das Forças Armadas), que, por sua vez, deve obedecer à Constituição Federal (embora cada Força tenha uma linha hierárquica própria, o princípio é o mesmo).
Naturalmente, além dos problemas decorrentes de ‘ordens mal dadas’ (que são fruto da falta de planejamento ou da incompetência dos superiores), esta regra geral de funcionamento pode ser perturbada por diversos fatores, como acontece nos casos nos quais o subordinado questiona a autoridade do superior ou, por decisão pessoal, desobedece uma ordem por julgá-la ofensiva a valores por ele prestigiados.
Nada disso, no entanto, justifica a insubordinação e a indisciplina e, para não perder o controle da tropa, o comandante precisa tomar providências imediatas para o restabelecimento da linha Hierárquica.
Foi exatamente isso que Lula fez no sábado passado, dia 21/01/2023, quando, – diante da recusa do general Júlio César de Arruda cumprir a idem cancelar a nomeação do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid – filho do general Mauro Cesar Lourena Cid e homem de confiança de Jair Bolsonaro, de quem foi ajudante-de-ordem e administrador do caixa dois do cartão corporativo, para o comando do 1º Batalhão de Ações e Comandos (uma das unidades do prestigiado e temido Comando de Operações Especiais), com sede em Goiânia, a pouco mais de 200km de Brasília – [Lula] trocou o comandante do Exército, designando para seu lugar o então comandante Militar do Sudeste, general Tomas Miguel Ribeiro Paiva – um militar ciente do deveres constitucionais das forças armadas e reconhecidamente comprometido com a Democracia.
Na realidade, sempre tratadas como um setor a parte da administração pública e encubadas num caldo de cultura estrangeiro, pouco a pouco, as forças armadas brasileiras se descolaram da realidade do Pais e se distanciaram das próprias origens.
De fato, a influência de escolas estrangeiras, sobretudo de West Point, na formação do oficialato brasileiro é tão forte que, embora oriundo em sua maioria das classes médias baixas, os militares formados em Agulhas Negras e seus ‘pupilos’ costumam ser simpáticos aos Estados Unidos (e às coisas por eles representadas) e têm horror a palavras como ‘comunismo’ e ‘esquerdismo’.
Nesta perspectiva, pela forma com falam e agem, os oficiais brasileiros parecem aceitar de bom grado a condição de linha auxiliar do Tio Sam e de guardião dos seus interesses.
Não é isso, no entanto, aquilo que o Brasil precisa.
O Pais precisa de forças armadas comprometidas com a Democracia e com o interesse brasileiro. Só isso.
Enquanto a formação dos militares brasileiros estiver contaminada por valores alienígenas, as forças armadas se constituirão em ponta de lança de interesses estrangeiros e eterno foco de crises.