Em meio ao panelaço em repúdio a Jair Bolsonaro, imaginei ter ouvido um grito surrealista – ‘Cabrito’ berrava a voz solitária.
De tão estranho, resolvi apurar o ouvido e percebi que a palavra quase sufocada pelo som das panelas e dos ‘fora Bolsonaro’ não era ‘cabrito’ e, sim ‘mito’.
E, aí, sem alternativa, constatei a existência dos chamados ‘bolsonaristas raiz’ – seres impermeáveis à realidade e que, seguindo a orientação do pastor ou, quem sabe, de uma voz interior, sem qualquer consideração à razão ou àquilo visto pelos próprios olhos, entregam o corpo e a alma à veneração da estupidez, da arrogância, da truculência, da crueldade, da insensibilidade, da perversidade.
De qualquer forma, pelo visto até agora, Jair Bolsonaro não é tipo de fazer medo, pois, como um cachorro vira-lata, embora possa fazer barulho, quando confrontado por gente séria, ao primeiro bater de pés, começa a ganir e foge com o rabo entre as pernas.
Não se pode dizer o mesmo dos bolsonaristas-raiz e, sobretudo, da chamada turma do Capetão.
Os primeiros porque são fanáticos e estes últimos porque têm muito a perder com o inevitável retorno de Jair Bolsonaro à planície.
A bem da verdade, deve-se esclarecer que, tal como fazem os aboiadores com o gado inocente, a turma do Capetão insufla e conduz os bolsonaristas-raiz, fazendo-os passar vergonha e correr riscos, especialmente de natureza jurídica.
Fico imaginando qual será o comportamento deste pessoal diante da provável derrota eleitoral de Jair Bolsonaro e do, igualmente provável, fracasso dos sonhos golpistas.
Como já aconteceu de outras vezes, num primeiro momento, a turma do Capetão vai se fingir de morta, depois [vai se fingir] de desentendida e, por fim, (com uma ou outra exceção) vai aderir entusiasticamente ao novo governo.
Os bolsonaristas-raiz, coitados, que costumam ser mais sinceros e pueris, depois de um curto período de esperança num golpe-milagre, vão sucumbir à realidade e, cada vez mais mal-humorados, passar a alimentar um sentimento saudosista e, sempre acreditando no mito, quem sabe, [passar a alimentar] uma espécie de sebastianismo com o sonho de que ‘o mito vai voltar’.
Que sonhem. A esta altura, o Brasil já terá retomado o caminho do crescimento econômico e do desenvolvimento social.