Bafejado por uma ironia do destino – a improvável combinação de uma profunda descrença popular na política com a necessidade de a ultra direita mundial criar um líder no Brasil -, no curso de um movimento golpista (no qual, diga-se de passagem, teve pouco protagonismo), de repente, sem o período de amadurecimento e preparação que outros passaram, Jair Bolsonaro se viu presidente do Brasil.
Bolsonaro foi feito presidente quase que por acaso, sem a necessidade de articulações, negociações, disputas, discussões programáticas e burilamentos como acontece com os líderes nas Democracias. Ele simplesmente acordou e se viu presidente, como se não devesse isto ou qualquer coisa a quem quer que seja. E, se julgando livre de compromissos, Bolsonaro deu curso ao discurso vazio da ‘nova política’ – um regime autoritário no qual o dirigente governa sem prestar contas dos seus atos.
Acontece que a Terra não é plana e a descoberta ou a invenção de coisas novas não ocorre por mágica. Aliás, por nunca ter tido expressão maior no parlamento ou ambicionar voos mais largos do que o curto horizonte vivido no chamado baixo clero do Congresso, Bolsonaro nunca se preparou para nada, muito menos para ser presidente da república.
E, assim, sem ter a formação, sem dispor de quadros, sem saber da importância da negociação, da articulação, da transigência, da discussão, Bolsonaro tentou compor um governo com familiares, com militares e com uns poucos colegas, metendo os pés pelas mãos.
Sem consistência e sem ter a quem recorrer, de tropeço em tropeço, Bolsonaro traiu a maioria das promessas de campanha e, descobrindo-se fruto da ‘velha política’, caiu nos braços do chamado Centrão – que, em trocas de prendas valiosas, deu-lhe as coisas que ele precisava para governar, incluindo o emaranhado de compromissos difusos que prendem os governantes.
E, mais uma vez, Bolsonaro foi surpreendido pela história: de político independente, capaz de governar nos termos da ‘nova política’, se descobriu refém da ‘velha política’ e por ela governado.
Hoje, ameaçado pelos 150 pedidos de Impeachment que adormecem numa gaveta da presidência da Câmara dos Deputados, Bolsonaro divide o poder com o deputado Arthur Lira, que, aparentemente, é quem, de fato, governa o País. Para aqueles que duvidam desta situação, recomendo observar a movimentação na e no entorno da Petrobrás, inclusive o comportamento de Caio Paes de Andrade, indicado para ocupar a vaga aberta com a demissão de José Mauro Coelho na presidência da companhia, que, ao invés de procurar Bolsonaro, conversa com Arthur Lira, sabendo-o farol e prumo para a sua gestão.
Assim, neste final de governo, com tempo cada vez mais livre para motociatas, Bolsonaro descobriu que está para o governo brasileiro assim com a rainha da Inglaterra está para o governo britânico. Este é o triste fim do governo que, um dia, despreparado e sem compreender a natureza do acidente que o colocou no Planalto, imaginou-se capaz de governar o Brasil com a ‘nova política’.
Ainda bem que a fila anda e, se tudo acontecer como esperado, a partir de 1º de janeiro de 2023, o Brasil será governado por alguém calejado, experimentado e preparado para exercer a presidência da república.