Numa bela manhã de abril de 2022, ao tentar um estágio não remunerado no Tribunal Penal Internacional em Haia (onde a Rússia responde por crimes contra a humanidade cometidos no curso da guerra no Leste Europeu), o brasileiro Victor Muller Ferreira foi detido pelo Serviço Geral de Inteligência e Segurança da Holanda sob a acusação de portar documentos falsos, sendo imediatamente deportado para o Brasil, onde, ainda no desembarque do aeroporto de Guarulhos, foi preso pela Polícia Federal, que o recolheu a um presídio de segurança máxima em Brasília.
Muitos olhares se voltaram para o episódio aparentemente banal, trazendo à baila partes da grande aventura já vivida pelo rapaz.
Segundo a versão das autoridades norte-americanas – as quais, alegando o tempo por ele passado em território dos Estados Unidos, se apressaram em pedir sua extradição para aquele país -, na realidade, Victor Muller Ferreira chama-se Sergey Vladimirovich Cherkasov e é oficial de inteligência do GRU (a temida Direção Central do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia).
De imediato, tão ágil quanto os norte-americanos, as autoridades do Kremlin também pediam a extradição de Sergey Vladimirovich Cherkasov.
Passando ao largo deste episódio que integra a nova fase da Guerra Fria, considerando o crime de uso de documento falso, em julgamento de primeira instância, a Justiça Federal em Guarulhos condenou Sergey Vladimirovich Cherkasov a 15 anos de prisão em regime fechado, além do pagamento de 16 dias-multa.
Aliás, ao tempo que era bombardeado por pressões dos Estados Unidos, que desejavam a extradição do ‘espião russo’ a todo custo, amparado em jurisprudências do STF e lembrando o ritmo quelônico atribuído pelos norte-americanos ao pedido semelhante feito pelo Brasil para extradição do golpista Allan dos Santos, o Itamaraty não deu muitas esperanças à Casa Branca.
E o tempo passou até que, nos últimos dias, indicando o iminente desfecho do caso, poucas horas após o ministro Flávio Dino anunciar a não extradição do russo para os Estados Unidos, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região reduziu a pena aplicada a Sergey Vladimirovich Cherkasov para 5 anos de reclusão em regime semiaberto.
Do ponto de vista concreto, isto significa que, em poucos meses, Sergey Vladimirovich Cherkasov será despachado para Moscou em significativa mensagem à Washington.
De sua parte, como é muito jovem, provavelmente Sergey Vladimirovich Cherkasov ainda viverá muitas aventuras no mundo da espionagem e da diplomacia.
Fica a pergunta: quando os Estados Unidos extraditará Allan dos Santos para o Brasil?
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