Como todos sabem, não tenho religião.
Isto é suficiente para, sem qualquer outra conjectura, o pessoal da Direita dizer-me Ateu.
Nada mais errado.
Na realidade, acredito (e acredito muito, podem acreditar) em Deus.
Acontece que, como as coisas de Deus estão muito além da minha compreensão, ao contrário daqueles que dizem entende-Lo (uns chegam a dizer que interpretam Seus sinais), prefiro recolher-me à insignificância e proclamar-me agnóstico.
Meu amigo Yamunacarya Mararaj, homem santo que lidera o Movimento Hare Krishna na nossa região, não concorda comigo, pois, no seu entender, como ‘conheço alguma coisa’, não posso ser considerado agnóstico.
Para Valter da Rosa Borges, sábio dirigente do Instituto Pernambucano de Pesquisas Psicobiofísicas, longe de ser cético, agnóstico ou ateu, sou um ‘livre pensador’.
Seja como for, acredito em Deus, tenho o máximo respeito por todas as Religiões e, sinceramente, não compreendo como pessoas que se dizem religiosas, em nome da fé, adotam posições de intolerância contra credos diferentes daqueles por elas professados.
Me parece que, além de indicar nível rudimentar de evolução, todas as formas de intolerância e de preconceito decorrem de uma ridícula presunção de supremacia, em comportamento associado a algum complexo de inferioridade (outra face e [outra forma de se manifestar] do complexo de superioridade).
Nos últimos anos, no Brasil, ao lado de referências a episódios de preconceito racial, econômico e social (igualmente execráveis), o noticiário tem sido manchado por relatos de casos de intolerância religiosa, inclusive com uso da violência, especialmente envolvendo militantes evangélicos de fé pentecostal contra fiéis da Umbanda, do Candomblé e da Jurema.
Na ausência de argumentos mais consistentes, além de acusações exóticas como ‘associação com Demônios’, agindo como se nunca tivessem ouvido a gritaria histérica de Amém’s, Aleluia’s, Glória’s e outros chavões naturais nos cultos, evangélicos acusam terreiros de ‘serem barulhentos’ e usam as ‘Lei’s do Silêncio’ presentes nas legislações municipais para tentar atrapalhar cerimônias e, até, fechar terreiros e centros.
Com efeito, com alguma frequência, as autoridades são instadas a agir para interromper rituais das religiões de matriz africana, conspirando, assim, contra a liberdade religiosa.
Recordo que, com método e organização, os evangélicos armaram um cerco à Campina do Barreto (bairro recifense que, não sei porque, abriga grande número de terreiros e centros) e, evocando a Lei do Silêncio, quiseram impedir o seu funcionamento, em atitude burra, egoísta e que, em nada contribui para o bom convívio social (na época, um acordo salvou os centros de xangô e maracatus nação da região).
A liberdade de ter (ou não ter) religião deveria se mais respeitada, pois a forma como as pessoas se relacionam com Deus é tão importante quanto a forma como elas se relacionam entre si.
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