No universo, tudo está em movimento, cumprindo um processo evolutivo que se apresenta genericamente como ‘transformação’.
Assim como nas séries matemáticas, as transformações ocorrem de modo ‘discreto’ (como se verifica nas escadas, quando a ascensão se dá aos ‘saltos’, com percepção tanto maior quanto maior for a altura do espelho do degrau) ou [ocorre] de modo ‘contínuo’ (como se verifica nas rampas, onde a ascensão de dá de forma tanto mais ‘suave’ quanto menor for o seu grau da inclinação).
Este raciocínio se aplica à Ordem Mundial, que, como um caleidoscópio cuja imagem se altera em função da posição das pedrinhas coloridas, [a Ordem Mundial] se transforma em função das mudanças na correlações geopolíticas entre os países.
Aliás, embora todos eventos internacionais contribuam para as mudanças, alguns, pela sua própria importância, têm maior peso nas transformações.
Nos últimos anos, por exemplo, alguns episódios tiveram grande importância na transformação da Ordem Mundial: a Guerra do Vietnã, a inconversibilidade do dólar decretada por Nixon, a ascensão dos Aiatolás no Irã, a queda do regime soviético e do muro de Berlin, a globalização dos mercados e o avanço do neoliberalismo, a expansão da China, o empoderamento das BigTecks, a criação dos BRICS, a aceitação do Yuan nos negócios internacionais, a guerra no Oriente Médio, a guerra no Leste Europeu.
A sequência de fatos como estes opera modificações na relação entre os países e, portanto, na Ordem Mundial – uma evolução contínua, nem sempre visível a olho nu, cuja percepção, muitas vezes, exige algum distanciamento histórico dos observadores.
De qualquer forma, seguindo um processo contínuo de evolução, a Ordem Mundial vai moldando e sendo moldada pela história.
Nos últimos dias, no entanto, um episódio parece ter operado (ou estar operando) uma mudança significativa e de grande impacto na correlação geográfica dos países, criando de forma abrupta uma nova ordem mundial.
Com efeito, a posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos parece ter precipitado acontecimentos que alteram radicalmente o xadrez da política internacional, impondo a brusca instalação de uma nova Ordem Mundial.
Esta situação não decorre de bravatas ou perversidades de Donald Trump – anúncio da intenção de incorporar a Groenlândia, o Panamá, o Canadá e a Faixa de Gaza, a perseguição aos imigrantes, o desmonte do Estado norte-americano, o super-empoderamento das BigTechs, a interrupção da contribuição a organismos internacionais, bem como a retirada de outros e outras baboseiras.
A brusca instalação de uma nova Ordem Mundial decorre do rearranjo das parcerias dos Estados Unidos, sobretudo na Europa, onde o abandono da OTAN e [o abandono] do governo de Volodimir Zelenski (para a usurpação de riquezas naturais da Ucrânia) deixou os governos da França e da Alemanha apavorados.
Não ocorreu sem razão a reunião de emergência dos lideres europeus ocorrida na semana passada em Paris ou a viagem (igualmente de emergência) de Emmanuel Mácron a Washington pouco depois.
Do ponto de vista objetivo, esta nova situação já levou a Europa a se convencer da necessidade da criação de uma força de defesa alternativa à OTAN e [levou] à aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU de uma Resolução que pede a paz na Ucrânia sem qualquer condenação à Rússia (o fato de a França e o Reino Unido não terem exercido o seu poder de veto indica que a Europa ainda tenta preservar a ‘amizade’ dos Estados Unidos).
Já estabelecida, esta Nova Ordem Mundial ainda tem contornos indefinidos, mas, seguramente reduz a importância da Europa dita ‘ocidental’, amplia o destaque reservado à China e aos BRICS e assistirá o progressivo encolhimento dos Estados Unidos.
Quem viver, verá.
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