Analistas da cena política se perguntam sobre o alcance da trama golpista no Brasil?
Com perspicácia, apontam que, conforme ficou mais ou menos claro na reunião golpista no Palácio de Planalto gravada pelo TC Mauro Cid em julho de 2022, ao contrário daquilo que alguns teimam em insinuar, a camarilha subversiva está para muito além da caserna.
Na realidade, por razões óbvias, muitas forças golpistas – notadamente aquelas vinculadas ao grande capital (nacional e estrangeiro) e à extrema-direita internacional – não estiveram presentes ou representadas naquele convescote bandido. Aliás, embora expressiva, aquela corja seria insuficiente para levar adiante um golpe de estado bem sucedido. Aquela reunião golpista, no entanto, deixou claro que, além dos militares, muitos grupos e personalidades civis estiveram (e estão) empenhados no assassinato da Democracia no Brasil.
Talvez por conta da movimentação aloprada de Jair Bolsonaro, dos bolsões golpistas conhecidos, a fossa militar é a mais evidente – ainda em março de 2021, em lance que acendeu todos os alertas amarelos, insatisfeito com a resistência dos oficiais em manifestar apoio às suas ideias de adotar o estado de defesa ou o estado de sítio sob o pretexto de impedir lockdowns no país, depois de substituir o general Fernando Azevedo pelo general Braga Netto no ministério da Defesa, o quadrúpede Jair Bolsonaro demitiu todo o comando militar (general Edson Pujol, almirante Ilques Barbosa e brigadeiro Antônio Carlos Moretti Bermudez) nomeando para seu lugar o almirante Almir Garnier Santos, o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior e o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (este último viria a ser nomeado para o ministério da Defesa quando o general Braga Netto se desencompatilizou para compor a chapa presidencial do PL, sendo substituído por Marco Antônio Freire Gomes no comando do Exército).
Sem dar destaque à resistência enfrentada pelo golpistas noutras searas, é voz comum que uma dos primeiras peitadas na empreitada subversiva ocorreu em meados de 2022, quando, numa reunião do comando das forças armadas, ao ouvir a insinuação do golpe, o general Marco Antônio Freire Gomes interrompeu Jair Bolsonaro com a ameaça legalista: “pare, senhor presidente, se não vou ser forçado a lhe dar voz de prisão”.
Há pouco veio à tona que, não satisfeito com o tranco recebido do comandante do exército, Bolsonaro manteve seus cães de guerra em ação e, no dia 12 de novembro de 2022, acompanhados de oficiais subalternos na casa do general Braga Netto (então candidato já derrotado a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro), com a orientação do anfitrião, o general ex-comandante das forças especiais Mário Fernandes e sua patota desmiolada detalhou o plano ‘Punhal Verde e Amarelo’, que, em meio a uma onda de agitação (bombas incendiárias, explosão de um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília, etc.) pretendia assassinar o presidente eleito Lula da Silva, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin e o ministro-presidente do TSE Alexandre de Moraes. Não se sabe quais forças fizeram abortar o ‘Punhal Verde e Amarelo’, mas a sanha continuou com bloqueio das estradas, acampamentos patriotários, explosões de torres de transmissão de energia até o Oito de Janeiro – atentados que, já no governo Lula, numa primeira reação, levou à prisão em flagrante a arraia miúda do golpismo e à substituição do general Júlio César de Arruda pelo general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva no comando do Exército e, em etapas subsequentes, a um montão de operações da PF e a algumas prisões de peixes graúdos, como os kid-pretos general Mario Fernandes, TC Helio Ferreira Lima, major Rodrigo Bezerra Azevedo e major Rafael Martins de Oliveira e, ainda, o policial federal Wladimir Matos Soares.
A Polícia Federal anunciou a conclusão do inquérito do Oito de Janeiro, com o indiciamento de 37 meliantes, a começar por Jair Bolsonaro. Para ser justo e confiável, além dos participantes da reunião golpista de julho de 2022, o inquérito precisa apontar e criminalizar os grandes idealizadores, mentores e financiadores da tentativa de golpe. Durante a tarde, a Polícia Federal divulgou o indiciamento de 37 golpistas – Ailton Gonçalves Moraes Barros, Alexandre Castilho Bitencourt Da Silva, Alexandre Rodrigues Ramagem, Almir Garnier Santos, Amauri Feres Saad, Anderson Gustavo Torres, Anderson Lima de Moura, Angelo Martins Denicoli, Augusto Heleno Ribeiro Pereira, Bernardo Romao Correa Netto, Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, Carlos Giovani Delevati Pasini, Cleverson Ney Magalhães, Estevam Cals Theophilo Gaspar De Oliveira, Fabrício Moreira De Bastos, Filipe Garcia Martins, Fernando Cerimedo, Giancarlo Gomes Rodrigues, Guilherme Marques De Almeida, Hélio Ferreira Lima, Jair Messias Bolsonaro, José Eduardo De Oliveira E Silva, Laercio Vergilio, Marcelo Bormevet, Marcelo Costa Câmara, Mario Fernandes, Mauro Cesar Barbosa Cid, Nilton Diniz Rodrigues, Paulo Renato De Oliveira Figueiredo Filho, Paulo Sérgio Nogueira De Oliveira, Rafael Martins De Oliveira, Ronald Ferreira De Araujo Junior, Sergio Ricardo Cavaliere De Medeiros, Tércio Arnaud Tomaz, Valdemar Costa Neto, Walter Souza Braga Netto e Wladimir Matos Soares.
Inconformado com a ideia de que jamais vai saber o nome de todos bam-bam-bans do golpismo no Brasil e cansado dal espera, o Brasil está ansioso pela conclusão dos outros inquéritos, pois quer conhecer o nome de todos os golpistas (já conhecidos e ainda por conhecer) e, sobretudo, vê-los na cadeia.
Leia mais em
www.alexandresanttos.com.br