De uns tempos para cá, o mundo passou a conviver com um tipo de organização privada mais poderosa do que as multinacionais tradicionais.
São as chamadas Big-Techs que militam no ramo da comunicação digital, animando redes sociais e coisas do gênero.
Com efeito, desafiando o Estado nacional, as Big-Techs são organizações fluídas, cujo funcionamento dispensa a existência de bases físicas, com estrutura de gestão difusa e que, além de fabuloso poder econômico, aproveitando os recursos da Internet, dispõem de capacidade e vontade de interferir no imaginário, consciente e subconsciente, das pessoas, formando legiões de alienados para interferir, inclusive, no comando político dos países.
A atuação das tais Big-Techs vem desafiando conceitos como Democracia, confrontado direitos, como a liberdade de expressão, e valores, como verdade e mentira.
Agindo numa zona cinzenta ainda não regulada pelos países, as Big-Techs constituem a pedra-angular das estruturas que formam a opinião pública e, portanto, condicionam os processos decisórios.
Com certa razão – anotando comportamentos submissos como o do ex-presidente Jair Bolsonaro, que, em maio de 2022, deslocou-se de Brasília para a cidade de Porto Feliz, no interior de São Paulo, para implorar uma audiência com o gigante da comunicações Elon Musk -, alguns observadores afirmam estar surgindo um novo tipo de ‘Estado’, baseado e controlado pelas Big-Techs.
Este tipo de constatação é reforçado por comportamentos como, por exemplo, a resistência das Big-Techs se curvarem à legislação dos países nos quais atuam, querendo, mesmo, submetê-los à sua vontade.
Evidentemente, este tipo de situação vem despertando a reação de Estados nacionais e, em consequência, a contrarreação das Big-Techs, como, por exemplo, o cabo-de-guerra observado no Brasil, onde, tendo mobilizado poderoso lobby parlamentar e criado uma legião de fanáticos, [as Big-Techs] querem submeter a vontade do governo brasileiro para estabelecer um novo regime de convivência política.
É nesta perspectiva que devem ser apreciadas as agressões do oligarca Elon Musk ao ministro Alexandre de Moraes, designado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para fazer a defesa da Democracia no Brasil e, também, a resistência do Congresso Nacional para aprovar leis contra as fakenews.
Mas, os embates de Estados nacionais não ocorrem apenas no Brasil.
Em abril deste 2024, o presidente Joe Biden sancionou lei que condiciona o funcionamento do TikTok nos Estados Unidos à venda da operação no país pela empresa chinesa ByteDance.
Ontem, o russo Pavel Durov, fundador e CEO do aplicativo Telegram, foi preso aeroporto de Le Bourget, nos arredores de Paris. na França, em função da “falta de cooperação do Telegram com as autoridades do país”.
Nestes casos, seguindo o receituário que realimenta o discurso inculcado nos bilhões de usuários, assim como repete a turma das big-techs no Brasil, o Tik-Tok e o Telegram se refugiaram nas teses gerais da Democracia e acusam a moderação de conteúdo nas plataforma de constituir ‘censura autoritária contra a liberdade de expressão’.
Um relance sobre o processo que levou à saída do Reino Unido da União Europeia mostra o quão perigoso pode ser o livre funcionamento das Big-Techs.
Se quiser sobreviver, a Democracia precisa se adaptar aos novos tempos e redefinir o conceito de liberdade de expressão, condicionando-o a valores como verdade e honestidade.
À propósito: quando o ‘X’ será banido do Brasil?
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