Para desilusão de alguns, ‘Quem sabe faz a hora, não espera acontecer’, estribilho da música ‘Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores’, de Geraldo Vandré – um dos principais hinos da resistência estudantil à ditadura militar -, traduz a forma de agir dos poderosos, daqueles que lançam mão da sua capacidade de mexer pauzinhos para conduzir a atividade da sociedade e para condicionar a opinião pública, exercendo protagonismo objetivo e modulando a própria história.
Este jogo é antigo e vem sendo praticado pelas elites desde sempre, não só com o uso da força, mas, também, [com o uso] de muitas outras ferramentas.
Aliás, um dos instrumentos mais usados pelo pessoal que ‘ao invés de esperar, faz acontecer’ é a modulação da opinião pública através da manipulação da mídia e, claro, do uso estudado das fakenews.
Acontece que, nestes tempos de conectividade instantânea através das redes sociais, as elites habituadas a ‘fazer acontecer’ perderam a hegemonia do processo e, ‘afrontadas’ num terreno que julgavam seu, passaram a se sentir ameaçadas.
É neste sentido que deve ser compreendido o destaque dado à Desinformação – classificada como “o maior perigo a curto prazo para a humanidade” no ranking dos desafios a serem enfrentados pelo mundo ‘nos planos econômico, ambiental, geopolítico, social e tecnológico’, no ‘Relatório de Riscos Globais 2025’, divulgado em 15 de janeiro – pelo Fórum Econômico Mundial.
Na realidade, as elites reunidas em Davos não estão preocupadas em estabelecer um mundo isento de manipulação da verdade.
Afinal de contas, este foi um dos processos por elas usados para construir as suas fortunas e o seu poder. Na realidade, as elites estão preocupadas apenas com a perda da hegemonia da manipulação da verdade que esperam ter.
Pouco importando quem faça a manipulação (as elites de sempre, os mercenarios da palavra, os vendilhões da fé, os espertalhões da política ou quaisquer outros canalhas), a construção de narrativas para condicionar a opinião e a vontade da sociedade – através da propaganda enganosa, do estímulo ao consumo, das campanhas de fakenews ou quaisquer outros métodos -, é perigosa para a Humanidade e pode, até, colocar a sua sobrevivência em risco, devendo ser repudiada sem condescendência.
A manipulação da Palavra e da realidade deve ser considerada um crime de natureza hedionda e como tal deve ser tratada.
Neste ponto, por razões diferentes, as aflições das elites de Davos coincidem com as preocupações da sociedade pensante, a qual deseja viver num mundo onde a verdade é a regra e os sonhos e as virtualidades servem apenas para adocicar a existência e embalar a arte.
As mentiras não podem constituir o instrumento regular de trabalho daqueles que cuidam do mundo objetivo.
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