Ao saber que, ao assumir o comando da repartição, o novo chefe criticara aquilo que chamou de ‘jeito público de ser’ e prometera alcançar ‘eficiência, pois iria atuar como se a repartição fosse uma empresa privada’, um sábio puxou pela memória e contou a seguinte história:
“Por estar ocupado naquela noite, o diretor deu o convite para a apresentação da orquestra sinfônica (considerada a melhor do país) [deu] a sua assessora de reengenharia. ‘Se divirta e, amanhã, me conte como foi’. A moça, extremamente dedicada, tomou aquilo como uma espécie de teste de competência e caprichou. No dia seguinte, logo cedo, ao chegar a escritório, o diretor encontrou um relatório sobre a escrivaninha. ‘Fui à apresentação e gostei muito. A orquestra é excelente, mas me parece que pode ser otimizada (parece que, como é custeada com o dinheiro público, o maestro não tem qualquer preocupação com os custos). Não sei porque tantos instrumentos. Vi uma infinidade de violinos, violas, violoncelos, contrabaixos, flautas, flautins, oboés, corne-inglês, clarinetes, fagotes, contrafagotes. trompetes, trombones, trompas, tubas, tímpanos, triângulo, caixas, bombo, pratos, carrilhão sinfónico. Acho que, mantendo um piano e a harpa, seria possível eliminar alguns instrumentos e reduzir outros a cerca de um quarto, possibilitando a dispensa de muitos músicos e, portanto, uma grande economia. A guisa de pulo-do-gato, o relatório terminava com uma referência ao órgão eletrônico já disponível no mercado e capaz de substituir toda a orquestra”.
Contei esta velha história para destacar que aquilo feito com poucas despesas nem sempre é o melhor e, ainda, que, como almejam objetivos diferentes, os critérios usados para aferir a qualidade do serviço público não são os mesmos aplicados à iniciativa privada. Infelizmente muitas pessoas não sabem disso e fazem uma confusão danada.
Algumas atuam no serviço público e, por completo desajuste funcional, ‘convertem magníficas orquestras sinfônicas em … sei-lá-o-que’.
Este longo introito tem o propósito de contextualizar a iminente experiência a ser vivida pela população dos Estados Unidos, cujo presidente eleito, entre outras coisas, prometeu dar maior eficiência à maquina pública estatal. E, a julgar pelos nomes já anunciados por Donald Trump para o seu ministério (só bilionários fazem parte do governo), parece que uma grande empresa privada está prestes a começar.
Entre outras medidas, vai criar um ministério da Eficiência Governamental, já tendo convidado o oligarca bilionário Elon Musk, conhecido por aplicar técnicas semelhantes ao tronco nas suas empresas, para comanda-lo.
Em sua primeira entrevista como chefe do Departamento de Eficiência Governamental dos Estados Unidos, Elon Musk prometeu ficar atento para sugestões do público – o qual, segundo ele, “deve avisar sempre que estivermos cortando algo importante ou deixando de cortar algo desnecessário“ – e, com base num ranking daquilo que chama de ‘gastos mais absurdos de impostos’ vai tomar decisões “que serão, ao mesmo tempo extremamente trágico e extremamente divertido”.
Os norte-americanos devem se preparar para o Estado mínimo pensado pelos bilionários que vão comandar o governo Trump. Não vai demorar e, além do enxugamento da máquina (com extinção de órgãos e demissão de funcionários), vão surgir sugestões de privatizações importantes.
Se o povo norte-americano não reagir, a administração Trump vai transformar uma grande orquestra sinfônica numa pequena Big-Band.
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