Entre os quesitos nos quais o governo Bolsonaro também se destaca está o seu envolvimento na desmoralização de alguns dos pilares do capitalismo liberal.
De fato, ainda na primeira metade do seu governo, quando o País foi paralisado pela pandemia de Coronavírus, em atitude não admitida, tal como fez Ricardo II (para quem não lembra: em 1381, por conta da redução do número de trabalhadores pela ‘Peste Negra’, a força de trabalho tornou um artigo escasso na Inglaterra – na ocasião, ao invés de cumprir a regra econômica de aumentar os salários em função da escassez de mão de obra, o rei atendeu aos senhores e instituiu lei obrigando a jornada dupla por salários menores, o que provocou a Revolta de Wat Tyler iniciada em Essex e que, rapidamente, se espalhou pelo sudeste do país), Jair Bolsonaro (e todo o mundo capitalista) foi forçado a admitir que, sem o concurso da força de trabalho, o capital é estéril (até hoje, Bolsonaro culpa o ‘fique em casa’ como causa da crise econômica do País).
Mas Bolsonaro é incorrigível e, mesmo acossado pela pandemia, persistiu no desrespeito ao trabalho, insistindo no livre curso do liberalismo. Como previsto, em consequência do arrocho salarial, da concentração de rendas, do encolhimento do mercado interno e da crise social, a economia desandou, saindo completamente do controle das autoridades econômicas e monetárias.
Instalado um quadro que mistura inflação e estagnação, a vergonhosa derrota eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (e, claro, do modelo liberal por ele abraçado) é inevitável.
Aí veio o mais interessante.
Reconhecendo a impotência do livre mercado como instrumento capaz de solucionar o problema da carestia, em gesto contraditório com a desestatização da Eletrobrás em curso, Bolsonaro e o ministro da economia Paulo Guedes resolveram pressionar setores econômicos.
E, alto e bom, desmoralizando mais um dos pilares do capitalismo liberal, dirigindo-se a empresários supermercadistas, Bolsonaro sucumbiu: “Faço apelo aos senhores para que tenham o menor lucro possível nos produtos da cesta básica, de forma que possamos dar uma satisfação aos mais humildes”.
Os preços continuam os mesmos.
E ainda tem gente que acredita no livre mercado.