Por razões óbvias, de matiz fincada no egoísmo e, de alguma forma, estruturada numa espécie de aristocracia preconceituosa, os ricos (e aqueles que se julgam assim) desejam um ‘governo para os ricos’.
Este desejo, tão bem traduzido no bordão ‘os pobres que se explodam’ eternizado por um dos personagens criados por Chico Anísio, se materializa de diversas maneiras: na candidatura de políticos simpáticos às suas causas, na introdução de itens específicos nas plataformas eleitorais, na apresentação de ‘ideias’ para aproveitamento nos planos de governo (dos eleitos), na indicação de membros para as equipes de governo, na sugestão de projetos e emendas, enfim no uso de todos os meios capazes de manter o curso normal das coisas, mantendo o regime que faz ‘as águas correrem sempre para o mar’.
A forma mais prática de os ricos condicionarem a administração pública aos seus interesses ocorre através do controle da vontade daqueles que a fazem [fazem a administração pública]. Por isso, investem contra os concursos públicos (que dão estabilidade aos funcionários, em condição que aumenta a sua resistência às diversas técnicas de persuasão) e contra o financiamento público da atividade política.
Neste momento, diante da impossibilidade objetiva de aprovar uma ‘Reforma Administrativa’ capaz de aumentar a sua influência na composição da burocracia que opera o governo, os ‘ricos’ se empenham em fragilizar os mecanismos públicos de financiamento da atividade política.
Usando a argumentação falaciosa de que os candidatos e o partidos são sumidouros de dinheiro ‘que é de todos e deveria ser usado na construção de escolas…’, as elites estimulam a antipatia das pessoas contra o financiamento público da atividade política. ‘Dinheiro de imposto não pode servir para alimentar os partidos”, dizem os ‘ricos’, disparando contra o fundo eleitoral criado para custear as campanhas e o funcionamento das agremiações partidárias.
Por esperteza (na pior acepção do termo), ao tentar impedir o financiamento público da atividade política, os ‘ricos’ querem assumir este papel [de financiadores dos políticos] e, assim, estabelecendo a dependência dos partidos e dos candidatos à sua vontade, passar a controlar as pautas eleitorais, os planos de governo, a administração pública, instaurando a primazia do poder econômico.
O fim do financiamento público da atividade política significa a consagração do financiamento privado. Significa a consolidação do poder econômico como instância máxima de decisão política. Significa o fim da Democracia.
Significa a restauração da Aristocracia.