Uma forma de bloquear (ou minimizar) a influência do poder econômico na gestão do Estado é impedir o financiamento privado da organização política, especialmente [o financiamento] das campanhas eleitorais.
Recentemente, o Brasil viveu um episódio muito elucidativo desta questão, quando o Congresso Nacional aprovou um Fundo Eleitoral no valor de R$ 4,96 bilhões.
Na ocasião, em reação sincera das classes ricas (e dos partidos que as representam) e hipócrita de outros, houve uma grita geral contra o valor do fundo – lembro que o único partido a renunciar o uso dos valores foi o Novo.
Vale dizer que, embora tenha figurado entre aqueles que mais espernearam contra o financiamento público de campanha, com a cumplicidade do Congresso Nacional, Jair Bolsonaro criou o maior fundo eleitoral de todos os tempos.
De fato, alegando o impacto da elevação dos preços internacionais dos derivados de petróleo, o governo aprovou uma PEC da Manipulação Eleitoral que lhe permite gastar R$ 41,25 bilhões até o fim do ano, incluindo R$ 26 bilhões no chamado Auxílio Brasil e R$ 1,05 bilhão no Auxílio Gás, além da criação de subsídios para caminhoneiros e taxistas e outros mimos.
Para quem reclamou tanto dos R$ 4,96 bilhões do Fundo Eleitoral, o empenho de Bolsonaro para torrar os R$ 41 bilhões da PEC é, no mínimo, contraditória. Na realidade, esta não é a primeira contradição de Bolsonaro e, além do mais, sua reação tem explicação, pois a compra do voto talvez seja sua única esperança de não ser vergonhosamente derrotado no primeiro turno das eleições.
Mas, a alegria de Bolsonaro e da turma do Capetão podem estar com os dias contados.
Com efeito, o partido Novo ingressou no STF com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade arguindo a legalidade da PEC da Manipulação Eleitoral e pede que seus efeitos passem a valer apenas após as eleições de outubro.
É dessa vez que Bolsonaro vai enfartar.
Não sei se o STF vai acolher a ADI, mas de uma coisa tenho certeza: Não é certo Bolsonaro usar o orçamento público para comprar votos.