Ontem, depois de longo período recluso à sua residência (inicialmente na Torre e, depois, na praia de Piedade), Sebastião Campello alcançou a Grande Inflexão da vida e partiu, deixando um expressivo legado de realizações e de bons exemplos para a Humanidade.
Sem conhecer a envergadura da história de Sebastião Campello, a maioria das pessoas relaciona o seu nome apenas ao Movimento PróCriança, organização a qual dedicou últimos anos de vida.
Mas, a história de Sebastião Campello começou muito antes do surgimento do Movimento PróCriança e nunca deixou de estar vinculada a projetos de grande alcance social.
Embora conhecesse a família Barreto Campello desde sempre, estreitei minha amizade com Sebastião Campello em 1974, quando ele era pró-reitor da UFPE e já ostentava grande folha de serviços, especialmente no Centro de Estudos do Nordeste.
Desde então, com maior ou menor intensidade, eu (sempre como aprendiz, pupilo e discípulo) e Sebastião Campello tivemos aproximação no curso de diversos projetos de interesse politico e social.
Lembro, como se fosse hoje, dos grupos estudantis que, sob sua mentoria, se reuniam no Círculo Católico para discutir temas políticos e conjunturais.
Naquela época, eu integrava o Grupo Origem, que se dedicava ao estudo de encíclicas progressistas e formulação de ideias comunitárias.
Foi do Grupo Origem a semente do movimento ‘O quê será’, liderado por mim, pelo inesquecível Sérgio Campello e por Marioedson Félix, que, incorporado ao movimento estudantil, se meteu em muitas confusões na luta pela redemocratização do País.
Na sequência, tendo como base formulações politicas de natureza regionalista fincadas na solidariedade social, Sebastião Campello elevou o patamar de responsabilidades do grupo formado na política estudantil e criou o Instituto Nordestino de Estudos Comunitários (INDEC) – uma organização dedicada ao estudo de ideias e de medidas capazes de promover o desenvolvimento regional.
Foi daquele tempo a realização de grandes encontros, inclusive aqueles realizados com ícones na política nacional como Teotónio Vilela e Franco Montoro e o seminário do qual emergiu o celebre ‘Manifesto por uma sociedade comunitária’.
Foi daquele tempo, também, a realização de significativas experiências econômicas. Tendo sempre Sebastião Campello como idealizador e líder, foram criadas uma empresa comunitária rural (a granja ‘’Irmã Terra, Irmã Lua’), uma empresa comunitária urbana (a famosa ‘Casa de Festejos’, no Alto da Torre) e uma comunidade de convivência (um grupo de pessoas lideradas por Sebastião Campello abriu uma conta bancária conjunta na qual todos depositavam a integralidade dos seus proventos mensais e dela retiravam os valores necessários para custear as suas necessidades).
Apesar dos bons resultados iniciais, as experiências não foram bem sucedidas.
Isto, no entanto, não arrefeceu sua vontade de mudar o mundo e Sebastião Campello tentou uma cadeira na Câmara dos Deputados. O fato de não ter sido eleito em nada mudou seu jeito de ser.
Por aqueles tempos, dando curso aos ensinamentos adquiridos dele, juntamente com um grupo de outros sonhadores, dei início ao sonho de criar um partido político capaz de colocar em prática os pensamentos comunitários que nos animavam e, em eloquente demonstração de humildade, Sebastião Campello aceitou ser o vice-presidente regional do Partido do Solidarismo Libertador.
O tempo passou.
Depois de período em Brasília – onde, na condição de assessor parlamentar, contribuiu para melhorar projetos-de-lei, tornando-os mais ‘humanos’ -, Sebastião Campello retornou para Pernambuco. Foi quando – juntamente comigo, Carlos Dutra, Francisco de Assis Brandão, Adalberto Arruda, George Emílio, Paulo de Tasso, Roberto Figueiredo e outros líderes-, Sebastião Campello reorganizou o Centro de Estudos do Nordeste (CENOR), dando sequência a um trabalho iniciado por Gilberto Freyre e Barbosa Lima Filho.
Aí, quando todo mundo achava que Sebastião Campello iria se dar por satisfeito, ele procurou os amigos com uma nova ideia: criaria o Movimento PróCriança, uma organização ligada a Arquidiocese do Recife e de Olinda cujo objetivo seria atuar junto as famílias carentes para erradicar definitivamente a presença de crianças abandonadas pelas ruas do Recife.
E, assim numa trajetória que, desde 1993, vem acumulando sucessos – sem desdenhar atividades que o fizeram ser admitido na Ordem do Mérito Moraes Rêgo e na Academia Pernambucana de Engenharia, receber a máxima homenagem do Confea e da Associação Comercial de Pernambuco, que concedeu-lhe o título de presidente de honra -, Sebastião Campello passou os últimos anos sempre alimentando novas ideias e fazendo o bem.
Lembro que, na nossa última conversa, há uns dez dias, ele demonstrava estar completamente lúcido e, mantendo o jeito Sebastião de ser, me convidou para discutir ‘um projeto para desenvolver a Amazônia’. Ele continuava a ser o Sebastião de sempre.
Para finalizar, devo dizer que, mais do que amigo e admirador, fui um grande discípulo (alguns diriam que ‘devoto’) de Sebastião Campello.
A ele eu devo a minha formação politica e econômica – no dizer de alguns, eu sou a ‘banda esquerdista’ de Sebastião Campello.
Vai, Sebastião, segue teu caminho na certeza de que, por aqui, cuidaremos da tua imagem e do teu legado, sabendo que você está no lugar reservado por Deus para os bons e para os justos.
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