Ao contrário daquilo pensado por muitos, nos últimos dias, Jair Bolsonaro não cometeu ilegalidades apenas ao promover campanha eleitoral antecipada no Agreste de Pernambuco e da Paraíba (onde, diga-se de passagem, foi vaiado copiosamente).
Ele fez muito mais
Movido por índole criminosa, Jair Bolsonaro fez coisa pior. Com medo dos depoimentos que os pastores envolvidos no esquema de corrupção montado no Ministério da Educação, usou todo o peso do cargo que ainda ocupa para libertar Milton Ribeiro, Gilmar Moura e Arilton Santos. A pressão presidencial foi grande e, em menos de 24 horas, o mesmo juiz que liberou 44 mil toras de madeira ilegal retirada da Amazônia mandou soltar os assaltantes do MEC.
A emenda, no entanto, saiu tão ruim quanto o soneto, pois, desmoralizado nas suas funções, o delegado Bruno Calandrini encarregado do caso denunciou a interferência externa e exigiu que a Polícia Federal (já empenhada na investigação das ameaças feitas ao juíz que decretou a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro) apurasse a sua acusação.
Mas, não foi só isso. Conversas telefônicas interceptadas no período imediatamente anterior à prisão dos pastores mostram que o ex ministro Milton Ribeiro foi avisado por Jair Bolsonaro de que ele seria alvo da operação da Polícia Federal, criando a oportunidade para a destruição de provas. E, aí, o Ministério Público Federal pediu que o STF apure a interferência de Bolsonaro na tentativa de salvar o ex-ministro e os outros pastores picaretas.
Se confirmada juridicamente a ingerência feita por Bolsonaro, o STF terá as provas de que o Presidente da República incorreu nos crimes de violação de sigilo (art. 325, CP) e de obstrução de justiça (art, 2º, § 1º, da Lei 12.850/13), dando motivos para novos processos contra ele, inclusive mais um pedido de abertura de processo de Impeachment.
Não acredito que, especialmente pela postura de cumplicidade demonstrada pelo presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira, um processo de Impeachment prospere a esta altura do mandato. Uma coisa, no entanto é certa: ao voltar à planície, em janeiro de 2023, Bolsonaro vai enfrentar tantos processos que, dificilmente escapará de ver o
Sol quadrado por um período. Ele merece.