A exemplo daquilo que ocorre no âmbito de qualquer programa do gênero, a desestatização dos aeroportos brasileiros também está marcada pela contradição dos valores do liberalismo (usados, diga-se de passagem, para justificar a desestatização).
Com efeito, a história do setor mostra que, uma vez no comando, a iniciativa privada rejeita a livre concorrência (tão prestigiada no discurso Liberal). Foi caso do Grupo Changi, de Cingapura, que, em típico caso de chantagem internacional, exigiu que o governo brasileiro sabotasse as operações do aeroporto Santos Dumont (para aumentar artificialmente o movimento do aeroporto Galeão), sob pena de abandonar abruptamente o controle da concessionária RIOgaleão.
Liberalismo sem concorrência. Parece piada, mas é o que está acontecendo no Rio de Janeiro.
Embora ligeiramente diferente, o caso do aeroporto Salgado Filho também desmoraliza algumas das teses liberais usadas pela turma da desestatização.
Para melhor compreensão da partifaria é preciso lembrar que o Lucro é a remuneração auferida pelo empresário em decorrência do risco enfrentado pelos empreendimentos.
Esta é a razão do velho adágio de que ‘Lucro sem risco não é Lucro. É sinecura”.
Pois bem.
Enquanto rendeu rios de dinheiro, a empresa alemã Fraport AG Frankfurt Airport Services Worldwide gostou muito do aeroporto Salgado Filho, o aeroporto internacional de Porto Alegre (um empreendimento arrematado, como todos outros, com todas as suas oportunidades e ameaças, incluindo, claro, as eventuais inundações), ganhando muito dinheiro.
Bastou, no entanto, surgir o primeiro problema grande para a empresa alemã botar as garras para fora.
Em claro indicador de que, como todas as outras também é adepta tanto do ‘capitalismo sem risco’ como do ‘Estado forte se for em benefício próprio’, sem sequer cogitar acionar o seguro (que prevê proteção contra alagamento em até R$ 2,9 bilhões) a Fraport comunicou que, enquanto o governo brasileiro não fizer os reparos necessários para recuperar o aeroporto Salgado Filho das mazelas decorrentes das enchentes, não voltará a opera-lo.
Muito interessante.
Na realidade, como quaisquer outros, os capitalistas alemães rejeitam o Risco e desejam um Estado forte o suficiente para garantir o funcionamento dos seus próprios negócios.
Para satisfazê-los, a desestatização precisar ser do tipo Caracu.
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