O Congresso Nacional deveria ser um extrato representativo da população e das forças políticas que autuam no Brasil.
Infelizmente não é assim.
De fato, por uma das muitas das deformações que relativizam a Democracia, além da ausência e sub-representação de certas fatias da população, alguns seguimentos são hiper-representados.
É o caso do agronegócio, das igrejas evangélicas e dos armamentófilos, que constituem fortes bancadas e, via de regra, atuam em conjunto, sob estímulo da extrema-direita, para impor pautas conservadoras ao País.
No começo desta legislatura, por exemplo, na impossibilidade de comandar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) criada para desvendar o Oito de Janeiro, cumprindo uma iniciativa da chamada Bancada do Boi (que congrega o pessoal do agronegócio e seus cupinchas), a extrema-direita criou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para atanazar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras (MST) – uma iniciativa flagrantemente ilegal, pois não havia um fato concreto para justificar a convocação.
Mesmo assim, aceitando o argumento de que há um ‘crescimento desordenado de invasões a propriedades rurais produtivas no país’, o presidente da Câmara dos Deputados Artur Lira criou a CPI do MST, que foi tomada de roldão pela extrema-direita – dos 27 membros titulares da comissão, 20 são da articulação conservadora (bolsonaristas, gente do boi, da Bíblia e da bala).
Apesar disso, considerando a baixa qualificação de seus membros (imagine que, por falta de opção, a relatoria da CPI foi entregue ao deputado Ricardo Salles, sobre o qual pesam inúmeros processos, inclusive por cumplicidade com grileiros e contrabando de madeira) e a fragilidade das ‘acusações’, a CPI não deverá alcançar o objetivo, que é criminalizar o MST e seus principais líderes. Pois bem.
A CPI do MST está chegando ao fim e, como já se esperava, sem qualquer prova ou, mesmo, indício forte, o deputado réulator (réu-lator é uma corruptela da palavra ‘relator’, que se impôs após o deputado relator virar réu num dos vários processos a que responde) Ricardo Salles vai apresentar relatório cujas linhas mestras foram redigida pela Frente da Agricultura antes do começo dos trabalhos.
Com efeito, nesta 5ª feira, 21 de setembro de 2023, o réulator apresentou relatório no qual pede o indiciamento de 11 pessoas, inclusive do ex-ministro do GSI Gonçalves Dias e do líder da Frente Nacional de Luta José Rainha – uma peça fraca e inconsistente, sem qualquer embasamento jurídico, cuja utilidade prática será alimentar as bolhas de desinformação.
Talvez seja hora do agronegócio abandonar sua posição belicosa em relação ao MST e, deixando-o cuidar da agricultura familiar, tratar de ajustar a produção agrícola do Pais aos reclamos ambientais de um Planeta saudável.
Leia mais em
www.alexandresanttos.com.br
Conheça o Canal Arte Agora
www.youtube.com/c/ArteAgora