Uma das muitas interpretações do germe mortal residente no Capitalismo é o minguar dos mercados decorrente da concentração de rendas – um processo implícito do Capitalismo, que, progressivamente, exclui do consumo crescentes levas de empobrecidos, reduzindo o nível da atividade comercial a patamares aquém da sustentabilidade e, neste embalo, arrastando todos os setores da economia para a vala dos desgraçados.
Naturalmente, de tempos em tempos, de modo a escapar da tal ‘vala dos desgraçados’, o Capitalismo recorre a artifícios capazes de abrandar a letalidade do germe, postergando a inevitável crise que, ao fim, vai destruir a todos.
Entre os artifícios mais comuns, está a antecipação de rendas futuras através da concessão de crédito – que, com níveis variáveis de exigência (tanto mais facilitado quanto maior for o interesse ou necessidade de contornar a crise do consumo) – e o acesso a rendas passadas através da liberação de poupanças compulsórias – como, por exemplo, a liberação do FGTS e de outros recursos mantidos em fundos previdenciários).
Por estes dias, aproveitando a reunião da mais fina flor do capitalismo no Fórum Econômico Mundial, em Davos, assustado, não só com a rapidez como a próxima crise se corporifica, mas, também, com o esgarçamento das relações sociais a ela relacionadas, lembrando a ‘explosão da concentração de renda durante a covid-19’ (estudo da Oxfam revelou que 2/3 da riqueza gerada nos anos da pandemia, um total de US$ 26 trilhões, reforçaram a fortuna de 1% da população mundial), um grupo de 200 milionários e bilionários de 13 países lançou a iniciativa ‘O Custo da Extrema Riqueza’.
Em seu manifesto, após destacar a relação direta entre a desigualdade de renda e a crise da democracia e lembrar que “um aumento de apenas 5% de impostos sobre a elite mundial poderia gerar US$ 1,7 trilhão por ano aos cofres públicos, valor suficiente para tirar 2 bilhões de pessoas da pobreza”, os bilionários propõem que as grandes fortunas sejam tributadas com maiores alíquotas.
Esta, talvez, seja uma forma de ceder alguns anéis para preservar os dedos.