Nestes últimos dias, a sociedade brasileira vem tomando conhecimento de muitos exemplos daquilo que universalmente costuma ser chamado de desgoverno.
Se, de um lado, a imprensa noticia que, sem participar de motociatas, cultos evangélicos ou reuniões com cabos eleitorais, o ainda presidente Jair Bolsonaro está recolhido à residência oficial da Alvorada sem nada fazer, de outro [lado], os grupos temáticos da equipe de transição têm encontrado situações de verdadeiro abandono, especialmente na saúde e na educação, com ausência de recursos, de informações estratégicas e de planos de atuação do governo.
E, estarrecidas com o desgoverno, as pessoas ficam horrorizadas com a ‘incompetência’ de Jair Bolsonaro.
Mas, sinceramente, estas pessoas esperavam encontrar coisa diferente?
Lembrem que (em boa hora, diga-se de passagem) o Brasil se despede de um governo ultraliberal, que, sem subterfúgios, sempre defendeu o Estado mínimo minimorum e, desde a campanha de 2018, disse que iria acabar com o ‘coitadismo’ no País (o que restou de assistência social e de apoio aos ‘coitados’ deveu-se às pressões da oposição durante a pandemia de coronavírus e, mais recentemente, às PECs eleitorais oportunistas).
Não há, portanto, razão para qualquer surpresa com a indolência de Bolsonaro e com a terra-arrasada consequente do seu governo.
Isto não é incompetência. É um exemplo prático do Liberalismo tupiniquim.
Se quiser exemplos reais do Estado mínimo defendido pelos liberais e conservadores – e, por pruridos culturais, não quiser subir às favelas ou descer às palafitas -, basta olhar para aquilo que acontece nos bloqueios de estradas federais, nos acampamentos golpistas erguidos diante de quartéis ou, ainda, para a empoeirada agenda presidencial ou para o vazio dos relatórios encaminhados pelo governo Bolsonaro à equipe de transição.
Embora ainda haja muita coisa por destruir, o governo Bolsonaro é uma mostra viva do Estado mínimo defendido pelos liberais.