O mundo da cultura, em geral, e o mundo das artes, em particular, são repletos de santas controvérsias – polêmicas que animam o cenário cultural, acendendo discussões e criando ambiente para a instalação da dinâmica dialética responsável pelo surgimento das escolas, partidos e estilos que lideram os avanços, espasmos e, mesmo, os retrocessos que modulam a história.
Já há alguns anos, por exemplo, militando em círculos intelectuais específicos, autores respeitáveis como Manoel Gomes de Abreu e outros despertaram um debate promissor ao insistir, não só que o mundo só chega à contracultura depois de passar pela cultura, como, também, que a cultura só chega ao estágio erudito depois de amadurecida e curtida na ambiência popular.
Para justificar a tese, Manoel Gomes de Abreu cita inúmeros artistas que, embora tenham adquirido notoriedade e fama pela militância na contracultura, tiveram sólida formação na cultura formal e, mais ainda, [ele] desafia contestadores a apresentar um só exemplo de ambientes eruditos que não estejam fincados em base de cultura popular consistente.
Em linhas gerais, contrariando pensadores defensores do criacionismo cultural, essa corrente afirma que ‘sem cultura não há contracultura’ a, ainda, que ‘sem cultura popular não há cultura erudita’.