A intolerância política contamina, alimentando e realimentando especialmente a intolerância dos imbecis. Não foi outro o efeito da cena na qual, empunhando um tripé fotográfico, ainda na campanha de 2018, Jair Bolsonaro fingia ‘metralhar os vermelhos’.
Tem bolsonarista que endeusa Jair Bolsonaro (alguns chegam a chamá-lo de ‘mito’) e, por razões explicadas pela psiquiatria, tenta imita-lo e, pior, sente-se liberado para fazer coisas que imagina agradá-lo. Pois bem.
Anteontem, um bolsonarista chamado Fernando Andrés Sabag Montiel tentou assassinar a vice-presidente da Argentina, a esquerdista Cristina Kirchner, quando ela chegava em casa na Recoleta, em Buenos Aires, e só não conseguiu o intento porque não soube apertar o gatilho da arma.
De imediato, vozes por todo o mundo se ergueram para condenar a violência.
Sintomaticamente, fora a pronta solidariedade manifestada por Lula e pelos outros candidatos ao Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro manteve silêncio até ser praticamente obrigado pela opinião pública e pelo Itamaraty. Só ontem, quase 24 horas após o atentado contra Cristina Kirchner, como último chefe de estado a se pronunciar, num ato de campanha Jair Bolsonaro se referiu ao assunto e, depois de dizer que já havia enviado uma nota, comentou que: “Graças a Deus o agressor não sabia manejar a arma” (um frase interpretada pelos terroristas que o apoiam como um estímulo aos clubes de tiro).
A tardia manifestação oficial do governo brasileiro foi registrada pela mídia argentina: “Ya envié una nota. Lo siento”, dijo Jair Bolsonaro al ser cuestionado al respecto durante un acto de campaña en Río Grande do Sul. “Ahora, cuando me apuñalaron, había gente que estaba emocionada. Lo siento, ya hay gente que quiere poner este problema en mi cuenta. Y el agresor… me alegro de que no sabía manipular un arma. Si hubiera sabido, habría tenido éxito en el intento”.
Uma coisa é certa: a onda de solidariedade à vice-presidente Cristina Kirchner significa o repulsa à violência e aos violentos. Talvez esta tenha sido a causa da relutância de Bolsonaro se solidarizar com o Povo argentino.