A História registra a participação de algumas personalidades sem as quais os golpes de 2016 e 2018 não teriam sido possíveis. Uma delas é Sérgio Moro, que, à época, na condição de todo-poderoso juiz da 13ª vara criminal de Curitiba, vendeu serviços de assistência jurídica às forças golpistas e, seguindo fielmente o script de Lawfare traçado pelo departamento de justiça dos EUA, conduziu a operação LavaJato para pavimentar os processos ilegais de impeachment da presidente Dilma Rousseff e, posteriormente, de inelegibilidade do presidente Lula, viabilizando a eleição de Jair Bolsonaro.
Passado aquele curto e denso período, Sérgio Moro revelou as fraquezas que o fizeram JuizLadrão e, já no ano seguinte, ingressou numa jornada de ambições, a qual, com igual celeridade, o desnudou e, agora, o faz provar de venenos por ele usados contra pessoas indicadas pelos mestres do Lawfare. Inicialmente, ainda em 2019, atraído pela possibilidade de ingressar no Supremo Tribunal Federal, abandonou a magistratura e, já na condição de ex-juiz e sem parte da máscara usada para ganhar notoriedade jurídica, aceitou convite para ocupar o ministério da Justiça do governo Jair Bolsonaro.
O casamento com Bolsonaro durou pouco e, apenas um ano mais tarde, Moro deixou o governo e, já na condição de ex-juiz e ex-ministro, apenas sete meses mais tarde, foi ser ‘lobista jurídico’ da empresa de consultoria norte-americana Alvarez & Marsal – empresa que, sintomaticamente, é a administradora judicial da Odebrecht e que cuida de negócios de muitas empresas afetadas pela LavaJato, incluindo a Sete Brasil e a Queiroz Galvão.
A grande debacle parece ter se acelerado com o canto da sereia soprado pelo senador Álvaro Dias um ano mais tarde, quando, já na condição de ex-juiz, ex-ministro e ex-consultor jurídico, Sérgio Moro se filiou ao Podemos com a intenção de concorrer à presidência da república.
Sérgio Moro achava que estava com a bola-toda. Acontece que, a essa altura, a máscara já havia caído, todos sabiam do seu caráter venal (ou, como dizem alguns, da sua completa ausência de caráter) e, apenas quatro meses mais tarde, aconteceu a célebre conversa-de-pé-de-ouvido de Sérgio Moro com o megaempresário e deputado Luciano Bivar, presidente do União Brasil.
Ninguém sabe o quê (ou quanto) rolou na conversa, sabe-se apenas que, repentinamente, traindo o acordo com Álvaro Dias, Sérgio Moro deixou de ser candidato à presidência da república e, ao arrepio da legislação brasileira, passara a dizer que era candidato ao senado pelo estado de São Paulo (e, não pelo Paraná, onde com as breves interrupções profissionais sempre morou).
Era um novo Sérgio Moro: ex-juiz, ex-ministro, ex-lobista jurídico e, agora, ex-candidato à presidência da república.
Pela sua ‘nova’ vontade, ele seria senador por São Paulo. Mas, não foi bem assim. Achando, talvez, que está fora do alcance de Lei, Sérgio Moro não cuidou das exigências legais e, em julho de 2022, verificando o óbvio, o TRE-SP constatou que lhe faltava ‘domicílio eleitoral’ para disputar o senado por São Paulo (Moro teve até sorte, pois, no mês seguinte, o tribunal determinou o trancamento do inquérito policial aberto para apurar o crime de inscrição eleitoral fraudulenta, livrando-o, que sabe, de uma temporada atrás das grades).
E, sem poder disputar por São Paulo, Sérgio Moro correu de volta para o Paraná, onde – na condição de ex-juiz, ex-ministro, ex-lobista jurídico, ex-candidato à presidência da república e, agora, ex-candidato ao senado por São Paulo – disputaria uma vaga ao senado, concorrendo contra seu antigo padrinho Álvaro Dias.
E, assim, se desmoralizando um pouquinho aqui e ali, arranjando um desafeto aqui outro ali, cometendo um ilegalidade aqui outra ali, Moro vem atravessando os dias.
Agora, surge a notícia de que, ontem – vivendo experiência que, muitas vezes, impôs às suas vítimas -, Sérgio Moro teve a residência invadida por policiais em cumprimento de mandato de busca e apreensão determinado pela juíza Melissa de Azevedo Olivas, do TRE-PR, por conta das ilegalidades por ele praticadas na campanha eleitoral.
Não sou de acreditar em certas coisas, mas, se a tal Lei do Retorno funcionar mesmo, na próxima vez, ao invés de busca e apreensão, com o prévio aviso às emissoras de rádio e televisão, a juíza Melissa de Azevedo Olivas vai determinar a condução coercitiva do Marreco à Polícia Federal.
Ele merece.