Em tempos normais, num país minimamente civilizado, proclamado o resultado da eleição, o candidato derrotado cumprimentaria o vencedor e, mesmo chateado, trataria de facilitar o chamado período de transição.
Mas, infelizmente, não é assim no Brasil, que parece ter atingido a fase mais obscura do processo iniciado com o golpe de 2016.
De fato, recolhido aos palácios presidenciais em Brasília, agindo como um avestruz caolho, Jair Bolsonaro parece não perceber a realidade circundante e, como que congelado no tempo, guarda um silêncio e uma inação estarrecedores.
Enquanto isso, o mundo gira e coloca marcos indeléveis na história.
Se de um lado (o lado democrático), Lula vem recebendo os cumprimentos devidos ao futuro líder máximo do Brasil – como telefonemas do presidente norte-americano Joe Biden e visita pessoal do presidente argentino Alberto Fernandez – e dando os primeiros passos para a formação do seu governo, de outro [lado] (o lado anti-democrático), se esboçam reações contrárias ao resultado das eleições – dando corpo e voz ao já conhecido discurso golpista, caminhoneiros bolsonaristas bloqueiam estradas exigindo a ‘pronta intervenção militar’ e militantes extremistas alardeiam que ‘o Brasil jamais será governado por um ex-presidiário’. Isto seria menos grave se não contasse com a omissão cúmplice de polícias militares e da Polícia Federal Rodoviária, que não estão reprimindo os bloqueios ilegais, e [não contasse] com o estímulo silencioso de Jair Bolsonaro, que, em nítida atitude golpista, parece esperar pelo agravamento da situação para ‘oferecer-se como solução’ e continuar na presidência da república.
Neste momento (como em qualquer outro), o Brasil não pode contar com Jair Bolsonaro (o qual, inclusive, faz parte do problema) e, na ausência de alguém como o marechal Henrique Batista Duffles Teixeira Lott para dar um ‘freio de arrumação’ nas movimentações golpistas, as esperanças do Brasil residem no ministro-presidente do TSE Alexandre de Moraes, que, de forma firma, cobrou providências à Polícia Federal Rodoviária para a desobstrução das estradas.
A repressão aos golpistas precisa ser dura e implacável, pois poucos crimes são mais graves do que aqueles que atentam contra a Democracia.