Não canso de dizer que “tudo aquilo que é bom para o Povo é ruim para o ‘mercado” e, na visada inversa, “tudo o que é bom para o ‘mercado’ é ruim para o Povo” (a palavra ‘mercado’ está aspeada porque refere apenas ao setor financeiro, que a usurpou [usurpou a palavra] com o objetivo de confundir a opinião pública).
Neste período de preparação do novo governo, por exemplo, todas as vezes nas quais Lula fala em ‘combate à fome’ ou ‘responsabilidade social’, o tal ‘mercado’ reage mal, explicitando o seu mau-humor através de quedas do Ibovespa e alta da cotação do dólar. Também foi assim com a perspectiva de alteração da política de preços da Petrobrás e com os anúncios dos nomes de Fernando Haddad para o ministério da Economia e de Aloisio Mercadante para a presidência do BNDES.
Confesso que, considerando o meu adágio, a reação do ‘mercado’ me agradou. Afinal de contas, se o ‘mercado’ não gostou é porque deve ser coisa boa para o Povo.
Acontece que, de alguma forma, o humor do ‘mercado’ traduz o sentimento dos mais elevados círculos do poder econômico do País (a chamada ‘Faria Lima’, termo cunhado pela imprensa em referência à elevada movimentação empresarial e financeira concentrada na Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo) e, com aquela turma, não se brinca.
Assim, para não dar desculpas aos egoístas, ao invés de tentar matar a sede de uma vez só, talvez seja mais prudente o governo fazer as mudanças necessárias ao bem-estar social aos poucos, acendendo uma vela (maior) a Deus e uma vela (menor) ao diabo.
Lula saberá como conduzir o processo. Com vagar, chegaremos lá.