Durante quatro anos, na condição de chefe do Poder Executivo, seguramente sem saber da liturgia associada ao cargo de presidente da república, sem qualquer orientação ou reprimenda dos aliados, Jair Bolsonaro vociferou todo o tipo de impropério contra o Poder Judiciário e aqueles que o integram, especialmente contra os ministros Edson Fachin, Alexandre de Moraes e Luis Roberto Barroso.
Aliás, as ofensas assacadas pela família Bolsonaro ao poder judiciário são antigas e expressivas. Em 2018, por exemplo, arrancando mugidos de alegria e de orgulho no gado, refletindo as conversas ouvidas do pai, Eduardo Bolsonaro desancou o judiciário e, alto e bom som, afirmou que ‘para fechar o Supremo, lhe bastariam um cabo e um soldado”.
Nenhum bolsonarista se manifestou em defesa das instituições, na ocasião.
Em julho de 2021, mantendo a batida em curso desde o ano anterior, falando no cercadinho construído para ele diante do Palácio da Alvorada, usando o linguajar chulo de sempre, Jair Bolsonaro acusou o TSE, então presidido pelo ministro Luís Roberto Barroso, de conivência com fraudes, atacou as urnas eletrônicas e ameaçou a realização das eleições em 2022.
Na ocasião, o ministro Barroso defendeu a lisura do sistema eleitoral brasileiro, atiçando, ainda mais, a falta de educação do quadrúpede Bolsonaro, que retrucou: “É uma resposta de um imbecil… Só um idiota para fazer isso”.
Diante daquelas grosserias, o ministro Barroso disse que não iria “bater boca” com Bolsonaro, mas garantia a realização da eleição (“eu garanto”, disse Barroso).
Nenhum bolsonarista defendeu a Democracia ou as instituições, na ocasião.
O nível dos insultos de Bolsonaro ao Poder Judiciário chegou a tal ponto naquele ano que, lembrando os seus ataques [de Bolsonaro] a integrantes da Corte, o então o presidente do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux decidiu cancelar a reunião entre os três Poderes proposta por ele próprio dias antes.
Os ataques de Bolsonaro ao TSE e às urnas eletrônicas continuaram, ganhando ponto alto no comício golpista de 07 de setembro de 2021, na porta do quartel-general do Exército, em Brasília. Os bolsonaristas nada disseram, na ocasião.
O ministro Barroso, no entanto, comentou o discurso do então presidente Bolsonaro: “Tudo isso mais revela limitações cognitivas e baixa civilidade do que propriamente um risco real”.
O fato é que, de insulto em insulto, de grosseria em grosseria, veio o pleito de 2022, Jair Bolsonaro perdeu as eleições para Lula e, ao invés de agir como se fosse alguém civilizado, não reconheceu a derrota e, pior, estimulou mais grosserias pelo seu pessoal.
Neste embalo, em novembro de 2022, aproveitando a presença de ministros da alta corte brasileira em Nova York, os bolsonaristas os hostilizaram, arrancando a célebre reação de Luís Roberto Barroso: “Perdeu mané, não amola”.
Nenhum bolsonarista ergueu a voz para censurar o militante que admoestou o ministro em viagem no exterior.
Aliás, como sabem o ministro Barroso e os democratas, uma eventual vitória de Bolsonaro em 2022 colocaria o Brasil em sério descaminho e aquele episódio de NY representou apenas uma mostra do poderia ser o modus vivendi.
E, foi com este sentimento, que, anteontem, ao se defender das vaias recebidas de um grupo extremista no Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), Barroso lembrou da sua luta pela democracia e pela livre manifestação nestes últimos anos e, completando, em desafio aos anti-democratas, afirmou que, nas últimas eleições, “derrotamos a ditadura e o bolsonarismo”.
Pronto! Os bolsonaristas, que nunca ergueram a voz em defesa da Democracia e das instituições, sentiram-se ofendidos e, vendo ‘partidarismo’ na fala do ministro do STF, passaram a cobrar o seu impeachment.
No dia seguinte, contrastando com a leniência que sempre guardou nos momentos de insultos, ameaças e agressões de Jair Bolsonaro, o senador Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso Nacional, convocou uma entrevista coletiva para cobrar uma explicação e eventual retratação do ministro Luís Roberto Barroso.
Embora, tenham razão aqueles que afirmam não caber a qualquer membro do Poder Judiciário manifestações de cunho político-partidário-eleitoral, há que reconhecer que, antes de tudo, a declaração do ministro Luís Roberto Barroso foi em defesa da Democracia e, neste sentido, merece ser aplaudida. Todo apoio ao ministro Luís Roberto Barroso.
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